1986. Uma mulher entra
no quarto de uma maternidade, em Brasília (DF), se apresenta como enfermeira, pega o bebê recém-nascido para exames, e some com a criança, embrulhada numa
manta, dentro de uma sacola. Um taxista a esperava do lado de fora, sem
desconfiar de que participava de um dos maiores sequestros de crianças, na
história do Brasil. Tratava-se do caso Pedrinho, desvendado 16 anos depois,
graças à desconfiança de uma “prima” do menino, Gabriela Azeredo Borges, ouvir da tia (sequestradora
do garoto) sobre uma cirurgia de ligação de trompas décadas antes do nascimento
do menino.
Discreta, a adolescente
buscou na internet indícios de que o primo havia sido roubado, já que nunca se
falou em adoção na família. Num site de crianças desaparecidas, ela encontrou
um homem com os traços de Pedrinho e uma marca incomum na orelha, que não deixava
dúvidas. Ao entrar em contato sobre suas
suspeitas, a garota foi orientada a conseguir fios de cabelo de Pedrinho e
diante das provas, comprovou-se que tratava-se mesmo do garoto sequestrado. Era hora de a
polícia entrar em jogo.
Assim que soube da notícia,
a verdadeira mãe de Pedrinho recebeu Pedrinho e sua mãe adotiva, Wilma, que
ainda usava os mesmos cabelos pretos e as sobrancelhas grossas de 16 anos
atrás, quando entrou no quarto e levou o menino. Era ela a própria
sequestradora, como reconheceu Maria Auxiliadora, verdadeira mãe do garoto, que com
elegância, agradeceu os cuidados que a mulher teve com seu filho, e só depois a
denunciou.
Pedrinho tinha sido batizado
como Oswaldo Filho, nome do ex-companheiro de Wilma, um homem casado, que fora
enganado a respeito da gravidez da amante. Morreu sem saber a verdade, mas a
deixou bem financeiramente. Através de Pedrinho, a polícia descobriu
que Wilma havia sequestrado outra criança. Wilma chegou a ser presa, mas está em liberdade condicional. De acordo com a justiça brasileira, houve prescrição no crime.Durante todo este tempo, a
mãe de Pedrinho nunca perdeu as esperanças de encontrar o filho. A
culpa pela inocência, o desespero e o vazio que sentiu, foram escritos num
diário, cujas linhas escondiam o ódio, a saudade e as lágrimas contidas. Auxiliadora
já tinha outros filhos, mas uma mãe pode ter 100 crianças, que sente falta
de cada uma delas.
A história de Pedrinho virou um livro. O garoto, que hoje é pai de um menino, convive bem
com as duas mães e intercala visita na casa das duas, em tempos de férias. É um
caso horrendo que envolve muitas mulheres: uma mãe que teve o filho arrancado
de seus braços, outra que o sequestrou e uma terceira, que foi quem desvendou o
mistério do sumiço de Pedrinho. Pouco se falou da adolescente corajosa. Mas, a
meu ver, ela é a verdadeira heroína deste mistério. Provavelmente, a mãe de Pedrinho
a agradeceu, mas faço aqui um grande
elogio à ela, o mesmo quando premio minhas alunas por algum mérito em sala: “Parabéns, mocinha. Você tirou um 10”.
Beijos,
Carla Vilaça
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