quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A heroína do caso Pedrinho


1986. Uma mulher entra no quarto de uma maternidade, em Brasília (DF), se apresenta como enfermeira, pega o bebê recém-nascido para exames, e some com a criança, embrulhada numa manta, dentro de uma sacola. Um taxista a esperava do lado de fora, sem desconfiar de que participava de um dos maiores sequestros de crianças, na história do Brasil. Tratava-se do caso Pedrinho, desvendado 16 anos depois, graças à desconfiança de uma “prima” do menino, Gabriela Azeredo Borges, ouvir da tia (sequestradora do garoto) sobre uma cirurgia de ligação de trompas décadas antes do nascimento do menino.

Discreta, a adolescente buscou na internet indícios de que o primo havia sido roubado, já que nunca se falou em adoção na família. Num site de crianças desaparecidas, ela encontrou um homem com os traços de Pedrinho e uma marca incomum na orelha, que não deixava dúvidas. Ao entrar em contato sobre suas suspeitas, a garota foi orientada a conseguir fios de cabelo de Pedrinho e diante das provas, comprovou-se que tratava-se mesmo do garoto sequestrado. Era hora de a polícia entrar em jogo.

Assim que soube da notícia, a verdadeira mãe de Pedrinho recebeu Pedrinho e sua mãe adotiva, Wilma, que ainda usava os mesmos cabelos pretos e as sobrancelhas grossas de 16 anos atrás, quando entrou no quarto e levou o menino. Era ela a própria sequestradora, como reconheceu Maria Auxiliadora, verdadeira mãe do garoto, que com elegância, agradeceu os cuidados que a mulher teve com seu filho, e só depois a denunciou. 

Pedrinho tinha sido batizado como Oswaldo Filho, nome do ex-companheiro de Wilma, um homem casado, que fora enganado a respeito da gravidez da amante. Morreu sem saber a verdade, mas a deixou bem financeiramente. Através de Pedrinho, a polícia descobriu que Wilma havia sequestrado outra criança. Wilma chegou a ser presa, mas está em liberdade condicional. De acordo com a justiça brasileira, houve prescrição no crime.Durante todo este tempo, a mãe de Pedrinho nunca perdeu as esperanças de encontrar o filho. A culpa pela inocência, o desespero e o vazio que sentiu, foram escritos num diário, cujas linhas escondiam o ódio, a saudade e as lágrimas contidas. Auxiliadora já tinha outros  filhos, mas uma mãe pode ter 100 crianças, que sente falta de cada uma delas.

A história de Pedrinho virou um livro. O garoto, que hoje é pai de um menino, convive bem com as duas mães e intercala visita na casa das duas, em tempos de férias. É um caso horrendo que envolve muitas mulheres: uma mãe que teve o filho arrancado de seus braços, outra que o sequestrou e uma terceira, que foi quem desvendou o mistério do sumiço de Pedrinho. Pouco se falou da adolescente corajosa. Mas, a meu ver, ela é a verdadeira heroína deste mistério. Provavelmente, a mãe de Pedrinho a agradeceu, mas  faço aqui um grande elogio à ela, o mesmo quando premio minhas alunas por algum mérito em sala: “Parabéns, mocinha. Você tirou um 10”.


Beijos, 

Carla Vilaça

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