sexta-feira, 1 de setembro de 2017

"Qual a sua história, mamãe?"


Meu inglês é precário, mas vou cantarolando músicas estrangeiras no carro, fingindo traduzi-las para o meu filho, até chegarmos à escola dele. E, assim vamos nos divertindo com as palavras cognatas (parecidas com as brasileiras), já que não sei a tradução da maioria delas. Quando me animo com a canção do Bruno Mars, explicando que “auuuuuuhhhh” quer dizer isso mesmo, caímos na risada. E continuo o percurso, "traduzindo" as canções: "I love you: amo muito você"! E depois: I believe angels. Viu, Edu? Significa que a moça acredita em anjos e a mamãe também...
Sou mais criança do que o meu filho de oito anos e ele sabe disso. Ás vezes me chama a atenção por não ser tão séria quanto as mães dos colegas dele, mas ao dormir, diz que ama e me agradece por respeitar o gosto dele por funk. Fazer o quê? Estilo musical é uma particularidade. Na idade dele eu amava Roberto Carlos e cantores antigos, dos tempos dos meus avós, e ninguém sabia porque tive um encantamento incomum para uma menina que ainda aprendia músicas folclóricas, como o sapo-cururu e atirei-o-pau-no-gato.
Mas, hoje uma pausa no CD fez o Edu me perguntar sobre a minha vida pregressa. Revelou que vai morar sozinho, aos 18 anos, que será rico e que não sabe quantos filhos terá. E sugeriu que nos mudássemos para os Estados Unidos, “onde se fala inglês”, e que lá eu poderia ser mais feliz. Continuei dirigindo, me questionando onde ele aprendeu a fazer tantas perguntas embaraçosas, mas no fundo sei que saiu à mim. E chorei sem o meu filho ver. Como ele percebeu que não estou satisfeita com a vida de solteira? Como sabe que tive um amor que mora fora do Brasil? “Papai me contou, mãe” – revelou-me.
Assim como as mães sabem tudo sobre os filhos, sem que eles digam, os rebentos conhecem a respeito de suas matriarcas, mesmo que elas guardem segredos a sete chaves (embora eu não guarde nem com fita de cetim). Ao me perguntar sobre a minha história, Eduardo já sabia mas, quis apenas a confirmação de que ao lado do pai dele eu era mais alegre. Confirmei que ainda amo meu ex-marido, que me arrependi da separação, mas que vou dar a volta por cima, pois era apenas uma situação recente, palavra que gerou novas explicações ao meu filhote, que está crescendo rápido demais.
O divórcio não me fez uma mulher mais feliz. Ao contrário, me deixou intranquila e insatisfeita, mas não há volta. A escolha foi minha e hoje fico imaginando como alguém pode se separar do marido e voltar a ter vida normal. Desde pequena meu sonho era me casar e ter muitos filhos e foi para isso que me preparei. Mas, não foi do jeito que imaginei. A decisão foi apenas uma das muitas que tomei de forma equivocada durante toda a minha existência. Antes eu não estava feliz e hoje estou sozinha. Mas não é a solidão do abandono, mas da falta de toque, de amor, de carinho. Não quero voltar para meu ex-marido. É apenas um desabafo, enquanto seu lugar não é ocupado por outro, em meu coração!

Beijos,
Carla Vilaça


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