quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

MANSÃO DOS HORRORES!!

No domingo passado, o programa Fantástico, da TV Globo, mostrou o caso do empresário, Saul Klein, acusado de abusos sexuais contra jovens, a maioria menores de idade. Nas imagens, que ancoravam a reportagem, ele aparece rodeado de garotas, distribuindo presentes ou descendo as escadas de sua mansão, enquanto é aplaudido  por funcionários e suas supostas vítimas. As cenas mostram-no como o centro das atenções e serviram como provas das acusações contra ele, num processo movido pelo Ministério Público, que somam 14 mulheres que se dizem vítimas do empresário. De acordo com os demais depoimentos, Saul obrigava as vítimas a imitarem vozes infantis enquanto assistiam a filmes de violência sexual. As acusações contra Saul incluem ainda aliciamento, estupro, cárcere privado e todo tipo de tortura contra as meninas, que eram impedidas ainda de se alimentar, de dormir e de se proteger contra o frio. 

 

A defesa de Saul nega as acusações e disse que as garotas faziam sexo com o acusado de forma consensual, alegando que o empresário é vítima das meninas e não o abusador, e que ele estaria sendo extorquido pelas denunciantes. Já o Ministério do Trabalho investiga denúncias de ex-funcionários por descumprimento de leis trabalhistas. Uma das testemunhas de acusação é a ex-governanta da mansão, que confirmou que aliciava as garotas para "festas" e contratos falsos de trabalho, em troca de cachês altíssimos pagos por Saul, que a teria estuprado ainda na adolescência.  E ontem a Justiça de São Paulo determinou uma avaliação psicológica no acusado. E talvez a Psicologia possa explicar as atitudes deste homem, que ao menos nas filmagens e fotos, ele aparece sendo aplaudido e beijado no rosto por duas garotas, enquanto outras dançam de forma sensual.

 

Mas, não é apenas a figura do acusado a chamar a atenção nesta história de horrores. Se de fato tudo isso ocorreu, porque nenhum funcionário  denunciou o empresário, se a suposta prática de tortura vinha acontecendo há no mínimo 12 anos? Em casos como este, em que a violência é escancarada, há um consentimento de todos, seja de forma ativa ou passiva e a a subserviência, apatia diante das torturas e dos abusos às vítimas e a subserviência cega, em se satisfazer o patrão, são corrosivos e tão desastrosos quanto os crimes cometidos pelo suposto violentador. E, segundo as investigações, funcionários colaboravam desde o aliciamento das meninas, até o confinamento delas na mansão, onde eram obrigadas a fazer sexo com aquele homem, 50 anos mais velho do que elas e tinham que seguir uma rotina para manter o corpo sempre em forma, pronto para servi-lo. 

 

 
 O curioso é que Saul tem um histórico de subjugação e tortura na família, não sofrido por ele, mas por seu pai, Samuel Klein, que viveu em Campos de Concentração, até fugir e vir para o Brasil em 1952. Durante a Segunda Guerra, o magnata do varejo, dono das Casas Bahia, ficou alojado em Budzin e Maidanek, passou fome, frio e teve medo de que os carrascos o matassem. Mas, a sorte o ajudou ou, quem sabe, os soldados fingiram não vê-lo se escondendo nos milharais. E uma vez livre, Samuel criou um império e uma família, ao que parecia, exemplar. Já na mansão do terror, se as torturas de fato ocorreram, as vítimas não tiveram a mesma sorte.

 

 

Beijos,

           Carla Vilaça


 

 

 


sábado, 9 de fevereiro de 2019

O ANTES E O DEPOIS

Eu sou muito desanimada, odeio sair à noite e raramente compareço à festas, porque durmo muito cedo e não tenho companhia para passar a madrugada conversando e rindo de assuntos sem muita importância. Mas nem sempre foi assim. Aos 20 anos, era de praxe toda sexta-feira, após uma semana exaustiva de trabalho, eu e duas amigas irmos a um barzinho na região sul de Belo Horizonte, onde acreditávamos fazer parte de um grupo de intelectuais que havíamos conhecido há alguns meses. Eram médicos, advogados, dentistas e empresários bem sucedidos, que nos aceitaram no grupo, de forma respeitosa, apesar da nossa extravagância no falar, no agir e no vestir. Ao contrário deles, não tínhamos curso superior e nem dinheiro. Também não conhecíamos o mundo e nossas roupas não eram adquiridas em shoppings ou butiques, mas em lojas populares, a prestações a perder de vista. Nunca, naquele grupo, ouvimos qualquer crítica quanto ao nosso jeito de ser e era surpreendente a educação deles conosco. É verdade também que havia um afastamento da parte deles, que indicava um não pertencimento, mesmo que sutil. Mas, nosso raciocínio era no presente e naquele momento, só nos importava a diversão e não a filosofia.
A juventude usa tapa-olhos que não permite uma criticidade no ato das ações ou antes delas. Por isso não se tem noção da extravagância ou dos abusos cometidos no meio externo. É também por esta razão, que muitas vezes, a pessoa madura tem vergonha do que já passou, do que produziu com sua falta de desconfiômetro, de tempos passados. Me sinto assim, neste exato momento, esperançosa de que as marcas da idade não me faça reconhecida por aqueles integrantes, que hoje também devem estar totalmente diferentes do que se apresentavam há décadas atrás.Não se trata de vergonha, mas da idéia do quão ridículas deveríamos ter sido, naquelas sextas-feiras em que nossas risadas chamavam tanta atenção naquele local sem música de fundo. Mas, se a juventude é cega, a maturidade é uma cirurgia de catarata, que permite a recuperação da visão, como num espelho dividido ao meio, cujo passado e presente podem ser comparados em tempo real.
Relembrar aquela época não me coloca em pé de igualdade com aqueles membros do grupo, porque jamais terei tanto dinheiro quanto eles e nem a posição social que ocupam. E nunca foi este o meu interesse. Tanto que eu e minhas amigas passamos a não frequentar mais aquele barzinho, sem dar satisfação ou qualquer despedida àqueles senhores e senhoras. Inicialmente, a diferença financeira, social e intelectual pode até seduzir, mas com o tempo, vai ficando chato. E é bom que saiamos da festa antes que ela termine. Quem me vê, hoje, ainda percebe aquela menina risonha, divertida e alegre. Porém, estou mais comedida, mais ética, mais contida. Exatamente como aquele grupo, cujos integrantes nos entendiam e nos aceitavam, sem críticas. Mal sabiam que éramos nós três que mais aprendíamos com eles. 



Carla Vilaça.

terça-feira, 8 de maio de 2018

Estudos nos ajudam em quê?

Fala a verdade: você já leu ou algum livro que ensina os homens a conquistarem as mulheres? Já participou de palestras ou debates, cujo tema principal fosse agradar a companheira na cama? Ou quem sabe tenha assistido vídeos no Youtube, que explicam como entender o sexo feminino? Pois é. Pode até ser que existam obras especializadas neste assunto, mas tudo o que li, até hoje, são dicas para nós, de como satisfazer os homens, como se eles fossem seres complicadíssimos e de satisfação misteriosa. Não é um machismo exacerbado, mas nos coloca numa posição de desvalor perante o sexo oposto.
Durante séculos a mulher tentou agradar o marido, mesmo não amando-o, pois aprendeu que o casamento se perpetuava com compreensão, e isso se referia às traições dele. Estes conceitos eram passados oralmente, e com a invenção dos jornais e revistas, eles passaram a ser transmitidos e registrados, de forma escrita. E não foi fácil reverter este quadro, o que só começou a mudar a partir do Feminismo, na década de 50 do século XX. Então começamos a reivindicar o nosso espaço, aos poucos, começando dentro do lar, desbancando os maridos, irmãos e pais, e depois brigando na sociedade. Conseguimos respeito mas ainda somos vítimas de brutamontes e covardes, que nos açoitam com castigos físicos e psicológicos, tanto em casa, quanto no trabalho ou na rua. 
E então surgiram os livros, que sem intenção de um discurso machista, acabam nos recolocando no lugar de onde saímos e que jamais queremos voltar. Pesquisas e estudos sobre as diferenças entre homens e mulheres vão muito além de simples normas e convenções e provam, por A mais B, que nosso cérebro é multifacetado. Isso explicaria o fato de fazermos várias coisas ao mesmo tempo enquanto os homens ficam no sofá em frente à TV, ocupados com o controle remoto, decidindo quem assiste o quê. Para os estudiosos, também somos mais ousadas do que os homens e por isso não temos vergonha de pedir informações ou ajuda a terceiros. 
Não sou contra os estudos, evidentemente. Mas, é que na prática, eles não favorecem a mulher. A definição de que somos multi-facetadas e multi-cerebrais acaba servindo como justificativa para o merecido descanso dos maridos, após o trabalho, enquanto à nós é reservado todo o serviço doméstico. Neste vai-e-vem de informações, somos prejudicadas, pois se restabelece o pensamento antigo de que nascemos para satisfazer os homens, já que a nossa constituição física e mental favorece este papel. Se nosso cérebro consegue digerir várias informações, como garantem os estudos, nosso estômago não pode dizer o mesmo, pois sofre de congestão crônica e precisa, urgentemente, se desfazer das baboseiras que andam servindo como justificativas para a preguiça masculina!




terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Tirando os canalhas das nossas vidas

Não sei você, mas eu já fui vítima de muitos caras que entraram na minha vida apenas para acabar com os meus dias e me deixar vulnerável, com uma sensação de que fui idiota mais uma vez. Esse tipo de homem, a quem chamo de "romanceopata", faz estragos no coração de uma mulher apenas pelo desejo de fazê-la sofrer, arrastando-se aos pés dele, enquanto esnoba a besta apaixonada por seus encantos fictícios. Nem sempre são atraentes, mas sabem conquistar e fazer chamego como ninguém, muitas vezes ocupando o buraco deixado por outro canalha como ele. E é assim que caímos no conto do príncipe falso. Porém, com o passar do tempo, fui aprendendo a detectar os imbecis e me desvencilho deles com facilidade, não importa o tamanho da minha paixão. Mas não têm um perfil facilmente detectável. Podem ser adolescentes ou velhos, ricos ou pobres, com ou sem filhos, um homem destes não respeita ninguém, principalmente as mulheres. Não têm ética e gostam de "passar a perna" nas pessoas, desde que aprenderam a sentir prazer na dor alheia. 
Na juventude eu adorava curtir as baladas, ir a barzinhos e danceterias, onde sempre conhecíamos alguém que nos prometia amor eterno, mas que não cumpriam a promessa. Com a alma ainda limpa, eles acabavam provocando em nós muitas cicatrizes, quando dava "bolo" na semana seguinte e acabávamos sozinhas por termos acreditando naquele crápula. E foi lá, na noitada, que aprendi a não só me livrar dos engraçadinhos, como a arremessá-los para o inferno através de uma resposta bem dada. Certa vez, numa danceteria, conheci um carinha interessante, que prometeu amor eterno e não me buscou para sairmos conforme ele havia prometido. Passados 4 anos, nos reencontramos no mesmo local, e sem se lembrar de mim, me "cantou" novamente. Lembrei-o do ocorrido, na frente de seus amigos, virei as costas, e pude ouvir a gozação que ele levou. Da pista de dança, eu me deliciava ao ver seu sofrimento. Coisas de menina-moça aprendendo a se fazer respeitada.
Em outra situação, após o divórcio, me apaixonei por um colega de academia, que me prometia amor eterno, e passou a me desdenhar quando percebeu que já havia me ganhado. Se antes ele me esperava para fazer ginástica, passou a ir mais cedo ou mais tarde, quando eu não estava no local, e não atendia mais minhas mensagens. Pura covardia. Minha resposta foi trancar a matrícula e não voltar nunca mais àquele lugar. Os anos se passaram, eu o esqueci e não planejava vê-lo novamente. Como moramos perto, passei a evitar qualquer espaço que pudéssemos nos encontrar. Mas, foi num supermercado que ele veio correndo me cumprimentar, acreditando que mais uma vez eu cairia em seus encantos. No entanto, não foi o que ocorreu. Fiz perguntas muito simples, não dei importância para o que dizia e ele pediu que eu o adicionasse em meu celular. Não cumpri a promessa. Joguei fora seu número assim que cheguei no carro, onde uma música lembrava o nosso romance. Respirei fundo, entrei na garagem de casa, peguei as compras e subi para o apartamento. Feliz e aliviada. Afinal, acabara de tirar da minha vida mais um calhorda. Atitude de uma mulher, agora madura, aprendeu e exige ser respeitada.

Carla Vilaça


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Até os beijos mudaram!




Sempre fui atrasada em questões do amor e meu primeiro beijo aconteceu aos 14 anos, quando minhas amigas já estavam experientes no assunto. E foram elas que me mostraram o que fazer quando "o momento chegasse". Após as instruções, eu ensaiava no espelho e observava cada ângulo do meu rosto para não fazer feio diante do rapaz. Mas, apesar dos ensaios, não foi o que esperei. O tão sonhado encontro de lábios, na verdade, me causou nojo e constrangimento. Decepcionada, após cada beijo, eu corria para escovar os dentes, me perguntando o porquê daquilo. Seria mais fácil se já nascêssemos sabendo beijar.
Em resposta aos meus questionamentos, minhas amigas, práticas e emancipadas, me alertavam que, no futuro, eu até sentiria falta dos beijos e que o início de tudo é sempre muito ruim. E segui assim, acreditando que um dia os toques labiais, e linguais, me fariam feliz. Alguns meses depois, eu já estava de namorado novo. Um relacionamento rápido, como vários que se seguiram. Mas, ainda não era tão bom. Faltava alguma coisa. Eu não conseguia juntar emoção, beijos, abraços e palavras românticas. É muita coordenação de uma vez só e meu cérebro não conseguia anexar tudo ao mesmo tempo. 
Não demorou para a confirmação da fala das minhas amigas. Nas festinhas corriqueiras eu sempre acabava beijando alguém, para assim, ter experiência. Por enquanto fui aprendendo apenas a técnica, passando ao segundo módulo, o das emoções. Somente ao final do curso é que nos era permitido toques mais íntimos, o que no meu caso demorou ainda mais, evidentemente. Na turma de amigos eu era conhecida como "A Difícil" e os meninos chegaram a fazer uma aposta para saber quem me beijaria primeiro. Nenhum deles ganhou a caixa de cerveja que seria sorteada.
Hoje os tempos mudaram e os beijos já não causam pavor. As garotas ultrapassam as etapas e muitas vezes, partem logo para o sexo. Mas, na minha adolescência, ser beijada ou despertar o interesse de algum rapaz, era como se fosse um prêmio. E o romance, que começava com uma música lenta, terminava com beijos escondidos dos pais e raramente dava em namoro. Como acontece atualmente, também não queríamos compromisso na juventude. A ideia de casamento nos causava pânico. No entanto, fomos aprendendo a usar o nosso cronômetro, que apitava ao menor sinal de avanço dos rapazes. Hoje se pode tudo. Não há tempo a esperar. Os beijos continuam os mesmos, mas se tornaram banais. Falta hoje, o que sobrava no passado: a ansiedade, a espera e a surpresa, elementos cruciais para o aflorar das emoções.

Um beijo.