Quando meu avô morreu, uma das primeiras providências dos filhos foi substituir o fogão à lenha por um moderno, à gás, para minha avó. Idosa, ela não precisaria mais cortar e carregar madeira para fazer comida. O eletro-doméstico, repudiago pelo meu avó, libertava agora, uma mulher que aceitava o sacrifício para agradar o homem que amava.
E a casa da minha avó se modernizou com chuveiro elétrico, geladeira, água encanada, vaso sanitário. Nada disso existia enquanto meu avó era vivo. Todos viviam na simplicidade, como desde quando se casaram, no início do século XX. Mas, tanta sofisticação agradou à família, não à minha avó. Pouco tempo depois, ela também morreu - de tristeza. A casa foi vendida e não sobrou nem pó. Minha avó, de poucas palavras, não queria saber de modernidade. Ela não queria a troca de fogões, pois sua realização estava concentrada no que ela sabia fazer de melhor: comida. E seus quitutes à lenha ficavam mais saborosos. Minha avó não conheceu o feminismo, nunca pensou em trabalhar. Mas, se na casa meu avô mandava, era na cozinha que ela definia o que a família iria comer. Sem querer, ela tomava as rédeas do lar. Era uma feminista, sem saber o que é isso!
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