quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Quem deveria proteger está matando!

Medéia é uma personagem da tragédia grega, que enciumada, mata os próprios filhos para se vingar do marido. Não satisfeita, ela também mata a amante dele, que para salvá-la acaba morto por envenenamento. A história, representada há milênios, foi alvo de estudos em diversas áreas (psiquiatria, psicologia, Direito, etc), arespeito da atitude daquela mulher que ultrapassa o amor materno em razão do amor carnal. Sou uma mãe fervorosa e incapaz de pensar em tal insanidade, mas o fato é que cada vez mais o noticiário mostra que muitas crianças estão sendo vítimas dos próprios pais, que tentam se vingar de seus companheiros, assassinando os próprios filhos. Meninos e meninas, sem chances de defesa de adultos que deveriam lhes proteger, acabam sendo torturados, humilhados, destratados e mortos. As maldades chocam pela situação, mas ainda mais pela frieza. 
Num destes casos horripilantes, um pai joga os dois filhos pela janela do apartamento e se suicida em seguida. Em outra situação, o padrasto de um menino de cinco anos asfixia-o e joga o corpo no rio, perto de sua casa. No interior de São Paulo, um homem dopa os dois filhos pequenos antes de esfaqueá-los, fotografa a cena sórdida e envia a para a ex-mulher, no celular. No exterior, outro padrasto joga a enteada de três anos na piscina, diversas vezes, até que ela morre afogada. Os dois estavam sozinhos, mas as câmeras do hotel flagraram-no cometendo a atrocidade. Ele acabou pegando cem anos de cadeia. 
Sou muito passional, mas a maternidade pressupõe um amor que não se mensura. Filhos não são joguetes na mãos dos adultos. Eles têm personalidade, merecem respeito principalmente de quem deveria protegê-los. Como professora, vejo casos de amor extremo em que padrastos são até mais carinhosos que os próprios pais de alguns alunos. Porém, fico sabendo de situações que me fazem perder o sono, tamanha indignação perante os abusos cometidos por familiares, incluindo às vezes a mãe da criança. E são comuns os abusos sexuais, percebidos durante as brincadeiras em que uma criança repete com o colega o que viu em casa. Tive um aluno de três anos que simulava o ato sexual e beijava na boca das meninas enquanto eu contava histórias infantis. 
Entre quatro paredes pode acontecer de tudo, sem que os vizinhos percebam. Mas, as crianças dão sinais de que algo não está correto e é preciso que as pessoas estejam atentas, o tempo todo, à mudanças de comportamento dos infantes. Quando desrespeitada, ela apresenta irritação, choro, angústia, medo exagerado. Estes traumas não desaparecem sem ajuda profissional. Há alguns anos um caso me chocou, numa coluna sobre relacionamentos numa revista feminina. A moça pedia ajuda a um psiquiatra, pois fora abusada sexualmente pelo pai durante muitos anos. Ao sair de casa, ela namorou com vários rapazes até se casar, mas era infeliz, pois jamais encontrou em outro homem, o olhar paterno, de tarado, que ela aprendeu a gostar durante os abusos que sofria!
O que me impressiona são os outros em relação aos abusos contra crianças. Parece que nos dias atuais os gritos por socorro ficaram sufocados e a ajuda nunca chega. Estamos muito preocupados conosco para auxiliar o próximo, numa frieza generalizada e muito preocupante. Apesar das leis que amparam as crianças e adolescentes, encontramos cada vez mais pessoas inescrupulosas, sádicas, que promovem todo tipo de atrocidades contra os pequenos. Mesmo que a tecnologia permita gravações dos abusos, não sei como certas pessoas conseguem sair de casa, à espera de que a câmera capte imagens de seus filhos apanhando, sendo abusados sexualmente ou até mesmo sendo assassinados. Ao menor sinal de desconfiança, o ideal é tirar o adulto abusador do convívio com a vítima, e não ficar esperando gravações para colher provas contra o agressor. Pode ser tarde demais. Devemos deixar a tecnologia de lado, quando se trata de seres humanos, e agir como adultos responsáveis, evitando que nossas crianças sejam maltratadas, humilhadas e mortas por lobos que se camuflam em peles macias de cordeiro!

Um beijo, 
Carla Vilaça 


2 comentários:

  1. Caraca Carla, que texto. Não fui abusada mas conheço mulheres e até crianças que foram quando eram menores, a situação é bem triste e o problema é que os pais estão tão ocupados com tudo que se diz ser de "adultos" que esquecem de seus filhos. Infelizmente e com um olhar bem triste digo que isso é comum, os pais preferem dar aos seus filhos presentes ao invés de atenção e isso só gera essa sociedade que vemos hoje de crianças mal educadas e as que são abusadas, quando tentam dizer algo, são desacreditadas. É realmente muito triste. Espero que um dia possamos fazer algo contra essa violência.

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  2. Muito obrigada pelo elogio, fico muito envaidecida. Você está coberta de razão. Há um abuso de todas as formas, em todos os setores. Um grande beijo e um ótimo Natal. Carla Vilaça

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