segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Com que direito podemos julgar os outros?

O mundo mudou demais, com o Feminismo, na década de 50 mas, nós, mulheres, ainda continuamos a sermos vistas como objeto pelos homens, sem direito a traições, como eles, sem direito ao prazer sexual, como eles, sem direitos iguais de salário e oportunidades. Na semana passada, em Belo Horizonte, uma moça foi demitida do emprego, teve sua vida exposta nas redes sociais, porque traiu o marido com o primo dele. Sem se defender, ela e o amante foram gravados ao chegarem a um motel, e o vídeo foi amplamente divulgado, o que gerou piadas e brincadeiras de mau gosto.  
A traição é sempre dolorida porque mexe com a auto-estima, dando a ideia de rejeição de quem é traído. Por outro lado, quem trai o faz por motivos variados, que vão do desejo sexual por outra pessoa à insatisfação pelo (a) companheiro (a) atual. O que não cabe, no caso acima, é a exposição dos fatos ao mundo, já que cada casal deve resolver suas questões particulares, em casa. Se houve traição, é certo que há ira, e o ódio pode gerar atos de violência, principalmente se houve flagrante. Mas, dividir com estranhos o que é familiar, dá margem a todo tipo de comentário maldoso à si mesmo e ao outro. 
O que mais chama a atenção no caso da moça que traiu, é o fato de o amigo do casal pedir satisfações aos amantes, como se ele fosse o marido traído, incitando a violência, ao invés de controlar a situação. Talvez ele já estivesse prevendo a exposição das imagens pelas redes sociais, o que a meu ver, é também uma traição à confiança do amigo, que também virou alvo de comentários maldosos. 
Há anos o homem trai esposas, noivas e namoradas, e raramente algum destes casos vêm à tona, uma vez que as mulheres comentam o fato apenas entre amigas ou familiares. E, mesmo que sua vida ficasse exposta, não seria manchete em jornais, ou teria sua vida escancarada através do Facebook ou whatsapp. Ele sequer seria demitido da empresa onde trabalha e não viraria piada. Então, porque nós mulheres temos que ser diferentes? Da mesma forma que eles, temos sentimentos, desejos e necessitamos de atenção e carinho, que muitas vezes faltam em casa, infelizmente. Não defendo aqui a traição, mas deixo claro que os homens, muitas vezes, acreditam que as mulheres se contentam com pouco e não raro, humilham suas esposas, como se elas nada fossem. E, ao menor sinal de carinho, sentimo-nos acalentadas, e por isso, vamos em busca do prazer que nos falta em casa. Não se trata de justificativas ou de defesa pura e simples da mulher, mas defendo os mesmos direitos. Se um não pode trair, o outro também não. Essa moça alegou que constantemente era humilhada pela marido e que já havia apanhado dele algumas vezes. Não o denunciou porque não adianta fazê-lo. E todas nós sabemos que não adianta mesmo.
São lindas as campanhas sobre denúncias de violência contra a mulher, mas na prática elas quase não funcionam. As agressões se confundem com brigas de casal e ninguém intromete. Comumente sabemos de casos em que o marido mata a esposa por motivos banais, depois de várias denúncias contra ele. A Justiça manda que os dois fiquem separados por 200 metros. Porém, quem vai impedir que este homem, agressivo, vá à casa da esposa para matá-la? No caso dessa moça, Fabíola, que foi amplamente divulgado, o marido chega a empurrá-la, enquanto a xinga, num ato violento, justificado pelos moralistas como o correto, já que ele foi traído. Para se defender, ela se esconde atrás do amante, que nada faz, o que não passa de mais violência, já que ele, ao protegê-la, prefere ficar imóvel para não ser processado judicialmente. Já o amigo do casal, que tudo grava, a meu ver é o que mais agride: com palavras, com gestos, com incitações à violência. O que ele ganhou com tudo isso? O que ele tem a ver com tudo isso? 
Temos muita facilidade em fazer julgamentos porque nos consideramos puros demais. Temos um padrão de comportamento constituído e exigimos que todos sigam as normas que acreditamos ser a verdade. No entanto, não somos completamente verdadeiros. Erramos como todos erram, cometemos falhas diariamente e perdoamos nossos deslizes. Mas, não perdoamos os dos outros. Que moral é esta que exigimos e não cumprimos? Com que direito as pessoas fazem juízo de valor sobre as pessoas e seus comportamentos? Cada um deve seguir a si mesmo e se comportar como achar que deve. Essa moça errou? Ela traiu o marido e está sendo vexada publicamente. Se ela agiu de forma incorreta não nos cabe analisar ou julgar. Afinal, a vida é dela e não nossa. Quantos homens traem, matam, humilham, torturam mulheres e permanecem livres? E você, nunca traiu ou teve vontade de fazê-lo? Acredita que nunca foi traído? Porque se acha no direito de julgar os outros? Há alguns milênios Jesus impediu Madalena de ser morta a pedradas por pessoas moralistas, que a acusavam de adultério e prostituição, segundo relatos bíblicos. Cristo lembrou que todos somos pecadores. No caso da Fabíola, eu não tenho coragem sequer de lhe atirar um grão de areia. E você, se julga tão sem pecado para jogar-lhe as pedras? Se nunca pecou, comece agora o espetáculo!

3 comentários:

  1. Concordo com o seu texto e com o famoso caso Fabíola, uma sociedade burra machista e hipócrita só condena a traição feminina, misóginos de plantão atacam a Fabíola como se fossem eles os traídos da ocasião, o gordinho e no máximo um garanhão o caso é um problema pessoal de casal não temos nada a ver com isso, quem errou ou não, não e de nossa conta mas o mais triste do machismo é ver como existem mulheres machistas que ao meu ver algumas são piores que muitos homens pelo jeito ninguém nunca errou é São todos Santos, e Pq a traição masculina não ganha tanto destaque assim ? Cynthia

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  2. Existem alguns sites que finalmente tratam dessa questão e do caso Fabíola com respeito, um exemplo disso é o força Fabíola que vi outro dia na net . Tentando diminuir um pouco esse machismo

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  3. isso mesmo, Cynthia. os homens podem tudo e nós somos castigadas por tudo,não é? vou ver este site que você sugeriu. Adorei. beijo grande. carla vilaça

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