sábado, 28 de novembro de 2015

O mundo não foi feito para eles!



Nós, mulheres, desde cedo, somos apresentadas ao sofrimento, pelos adultos, quando nos fazem de ajudantes de enfermagem quando surgem problemas de saúde na família. Aprendemos, então, a fazer chás para os idosos acamados e tratá-los com carinho, a ouvi-los e ajudar com o banho e os remédios. Esse acalanto nos cria uma sensação de prazer, de utilidade, que levaremos para o resto de nossas vidas. E é na fase adulta que vamos confundir as sensações, e os conflitos não demoram a aparecer. Essa sensibilidade aflorada, e nunca concluída, vem carregada de culpa quando deixamos o filho na creche para irmos ao trabalho, por exemplo. Nós, que sempre cuidamos, temos que deixar quem mais amamos aos cuidados de outra pessoa. Somos mulheres, que acalantam, que fazem ninar, que curam os doentes, que sabem ouvir lamentos. Somos mães dos adultos, dos velhos, dos desconhecidos, da vizinhança.
E esta maternidade, embutida em nós quando ainda éramos apenas uma menina, que se instala em nossas mentes e corações, para nunca mais sair. Somos eternamente mães e por isso não percebemos quando temos amor fraternal até mesmo pelos nossos maridos. E é essa relação, tão perigosa, quase incestuosa (psicologicamente falando), que divide os entendimentos em relação ao amor que deveríamos dispensar, mas que fazemos questão de compartilhar com o ser amado. E não percebemos quando substituímos o sexo pelo companheirismo e amizade, ou quando nos preocupamos demais com a saúde dele, com o sucesso dele, com a felicidade dele, como uma mãe aos filhos, esquecendo que nós também precisamos viver. Essa confusão de papéis, muitas vezes, permite que sejamos desrespeitadas como mulheres e passemos a ser traídas com quem merece sexo de verdade, na rua. Somos, então, “trocadas”, mas não substituídas, por prostitutas ou amantes, mantidas em segredo durante anos a fio sem que percebamos.
Ai contrário de nós, aos meninos é dada a escolha de brincar, e ele realmente vai para a rua, para o campo de futebol, enquanto ficamos trancafiadas num quarto, esperando a hora de sermos úteis. E vamos nos acostumando com o sofrimento: as cólicas menstruais, as oscilações dos hormônios, a TPM (tensão-pré-menstrual), a dor da primeira vez e a dor do parto. E, diante de tanto sofrimento, não reclamamos, como se ele fosse naturalmente feminino, e por isso, inevitável. E assim, nos tornamos mães do mundo, maternais em com o próximo (principalmente se esse próximo for homem), complacentes com a tortura.
As confusões em relação às dores, físicas ou psicológicas, escurecem nossa visão, num mar de ofuscamento, que por vezes, não encontramos distinção entre o que é amor e o que é violência. Entre as duas situações, tão distantes uma da outra, de seus significados, há uma linha tênue que exige percepção por parte de quem é agredido. Desta forma, permitimos a traição dos nossos companheiros, aceitamos a humilhação e a surra, não reclamamos, não denunciamos, até que a o assassinato se faz presente em nossa carne e somos enterradas com as nossas indignações, travadas na garganta.
Ao homem é permitido tudo: viver, transar a vontade, trair, bater, humilhar, matar. A punição é branda. Ele aprendeu, desde cedo, que pode fazer escolhas, enquanto nós não. Ele leu com seus familiares que à mulher, não é permitido curtir a vida. Ela deve ficar em casa cuidando das pessoas da família, enquanto ele se diverte. O mundo foi feito para eles, com absoluta oferta de beleza, facilidades, compreensão, permissão. Permitimos a folga, a violência, os abusos, os assédios, porque fomos criadas com senso de amparo, de acolhida, de proteção. Mas, nossos maridos, namorados, noivos, não são nossos filhos. Eles são homens! E não merecem mais do que nós!

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