domingo, 26 de outubro de 2014

O bem que um livro faz!!!

Eu sempre gostei de ler, mesmo quando ainda não conhecia o alfabeto. Tudo me desperta curiosidade, e nesta semana, vasculhando revistas velhas na escola onde trabalho, me lembrei de um fato marcante, aos cinco anos de idade. Eu passava férias na casa do meu avô materno, em Uberaba (MG), quando descobri dentro do sofá (o povo antigo tinha esta mania), uma publicação que falava sobre a visita do homem à Lua. Fiquei encantada com as fotos (na época se dizia retrato) e fingia ler as palavras, quando levei um susto! Meu avô arrancara aquela revista das minhas mãos, alegando que eu teria uma congestão porque havia acabado de almoçar. Ele poderia ter explicado o motivo da grosseria, mas as crianças, diferentemente de hoje, não tinham vez e meu consolo foi chorar de vergonha e raiva. 
Depois daquele episódio eu passei a temer o meu avô, e enquanto estive em sua casa, não peguei mais em revistas ou livros! Um erro terrível daquele homem, mas que não me deixou traumas (pelo menos pensei que não tivesse deixado). E imaginei que já tivesse esquecido do fato, mas preferi deixar as lembranças num cantinho do cérebro, que hoje vêm a tona por um estímulo involuntário. A leitura é uma janela que se abre contra a ignorância, e talvez por isso meu avô fosse tão massudo. Acredito que, apesar de sua inteligência para os negócios, se lesse mais, ele seria um senhor mais carinhoso e preocupado com os netos, e não apenas com o dinheiro, que um dia ganhou demais e perdeu tudo de uma hora para outra. 
Os livros, que representam os olhos do outro sobre a vida, colocada em páginas, nos remetem a caminhos que certamente jamais percorreríamos. Particularmente, odeio viajar e só conheço alguns lugares através de histórias orais e escritas. Os escritores também me ensinam muito sobre o ser humano e é por causa deles que tenho um embasamento para discutir muitos assuntos, que causam admiração em algumas pessoas. O filme "O Carteiro e o Poeta" ilustra bem esse raciocínio. A história, passada numa cidade pequena, possui a maioria de seus habitantes, analfabetos, que ficam preocupados diante da escrita, até mesmo num pedaço de papel. 
Aprendi a ler aos sete anos de idade, num sofrimento diário, nas aulas da dona Berenice. Aquela mulher bonita me deixava atordoada quando me obrigava a escrever trechos de uma cartilha sobre uma menina com o seu cachorrinho Jujuba. O meu medo era tão grande, que mesmo transcrito num cartaz no fundo da sala, eu me recusava a copiá-lo em dia de prova. E aquela cartilha durou o ano inteiro, uma chatice sem fim. Para distrair, inventei uma estratégia, que utilizo até hoje quando estou em algum lugar de que não gosto: me imagino naquele lugar, vivenciando aquela situação, e mudando todo o roteiro. E o meu final, para aquela história, foi o sumiço daquele cachorro chato e da menina linda, dona de um quarto que eu sonhei na infância, que me causava inveja e que eu jamais tivera. 
Os livros me acompanham por prazer, na beirada da cama, no ônibus, no consultório médico e no intervalo entre uma aula e outra. Como as crianças repetem os gestos dos adultos, meus alunos são ótimos leitores. E lendo, eles abrem as cortinas da vida, recheada, por enquanto, de príncipes e princesas, amparadas por uma pessoa que alimenta esta fantasia e os incentiva nesta prática tão prazerosa. Quanto mais cedo as janelas se abrirem, melhor para um ser humano, que cresce com ideias de um mundo a ser mudado, planejado, em que cada um tem uma participação social. Percebo, mesmo entre nós, professores, a falta de leitura, de se abrir ao conhecimento, a dificuldade da escrita, pela falta dos livros, que somente são lidos por obrigação. 
E assim, fazendo uso diário da leitura, amadureço, aprendo, reflito. Ao contrário do meu avô, que ao morrer, levou consigo sua ignorância, carregando um cérebro pesado, concretado pelas informações que colheu durante a vida. Se tivesse se dado ao luxo de ler mais, talvez teria sido um avô mais carinhoso. Quanto à mim, descontei nele toda a raiva guardada daquele dia assustador. Ao morar conosco por um tempo, fui grosseira, implicante e pirracenta. Nossas brigas eram homéricas e discutíamos por tudo. Então adolescente, eu não o suportava, mas nunca reclamei da sua atitude do passado, e ele nunca percebeu que a minha implicância era pela raiva que havia me passado. Nisso, infelizmente, me igualei a ele: fui ignorante, sem dar chances ao outro de se defender. Foi, com certeza, a fase da vida em que menos li!!!

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