terça-feira, 2 de setembro de 2014

Médico, monstro e milionário!

Depois de ser condenado pela Justiça brasileira a 278 anos de prisão por estupros de mais de 50 pacientes, o médico Roger  finalmente foi preso, mas acusa suas denunciantes de loucura. Ele estava foragido desde a sua condenação há quatro anos, e foi encontrado no Paraguai, onde vivia com a mulher e os dois filhos pequenos, numa mansão com direito a motorista particular e outras mordomias. As vítimas do médico relatam que sofreram abusos sexuais em sua clínica de fertilização enquanto estavam anestesiadas. Roger é acusado ainda de manipulação de óvulos e da venda de material genético no mercado negro. 
Há várias leituras nesta situação, passíveis de análise, principalmente a psicológica, a começar pelo trauma deixado nas mulheres abusadas. Sem movimentos musculares, por causa da anestesia, estas vítimas se viram objetos de um homem que transaram com elas e as beijaram, sem que pudessem se defender. Na maioria das vezes, os maridos estavam numa sala ao lado e sequer perceberam o que acontecia. Envergonhadas, ou com medo da reação de familiares, nem sempre as vítimas contavam sobre os abusos. Além do mais, os casais acreditavam no sonho de terem filhos, e Abdelmassih era considerado um dos melhores profissionais do ramo. E só agora se percebe que a propaganda que fazia de si mesmo, não era verdadeira. Tanto que a maioria das suas pacientes, não engravidaram.
Larissa e Abdelmassih: loucos são os dois
E, mais uma vez, e sempre ela, a Justiça do Brasil foi morosa. Roger Abdelmassih começou a abusar de suas pacientes aos 28 anos de idade, ainda recém-formado. Já naquela época, ele foi denunciado, e somente depois de quase 40 anos este homem foi finalmente preso. Foi um tempo suficiente para um bandido disfarçado de doutor conseguir um patrimônio que lhe permitiu uma vida de luxo. Tempo também para se intitular "o papa da fertilização", tendo como clientes, artistas e jogadores de futebol que pagaram fortunas para terem filhos. Se  Abdelmassih tivesse sido condenado logo no início da primeira acusação, ele no máximo teria exercido sua profissão num posto de saúde. Mais uma vez acredito que não só o médico, mas a Justiça devam pagar por seus erros. 
Uma terceira análise que faço é sobre a mulher atual de Abdelmassih, Larissa Sacco, mãe de seus filhos pequenos. Bem mais jovem que o médico, bonita, profissional bem-sucedida (é procuradora da República), ela ficou ao lado do marido e fugiu com ele como num conto de fadas, como se o mundo fosse ruim, e os dois, vítimas da população malvada. Por mais que se ame e seja companheira, as mulheres são unidas quando se trata de abuso sexual. Mas, não foi este o caso de Larissa, que mesmo diante das denúncias, ao invés de abandonar o marido, continuou com ele, numa vida de luxo, na clandestinidade. Para se viver assim, não precisa amor. Precisa ter a mesma mente, a mesma capacidade doentia de burlar as leis, de trapacear, ou seja, os dois são iguais, apenas nasceram em épocas diferentes, e se encontraram como num filme de terror, em que o romance serve como pano de fundo para as cenas amargas das vítimas. Larissa e Roger se merecem. Deveriam também passar os dias enquadrados, o resto de suas vidas. Não, isso seria muito pouco para o tarado, que se tornou milionário às custas de falsas propagandas de seu trabalho como geneticista. No filme o "Médico e o Monstro", uma substância transforma fisicamente o médico, fazendo-o reagir de forma estranha, cometendo atos monstruosos. Bem mais sutil do que Roger, que carrega em seu cérebro e no seu sêmmen, toda a nojeira que um ser humano pode chegar. Ele é sim, e sempre foi, um monstro, da pior qualidade que o cinema já produziu.



2 comentários:

  1. Vejo nesse caso mais uma confirmação dos vícios da nossa cultura. Primeiramente, a questão destacada por vc, que é a lentidão da nossa justiça. No caso desse médico, fica evidente o status exagerado atribuído aos profissionais médicos pela população brasileira. De modo geral, os brasileiros não concedem a presunção de inocência, primeiro julgamos, depois vamos saber de quem se trata. Em relação aos médicos, é o contrário. As pessoas no brasil dão aos médicos uma importância exagerada. Ainda vemos o médico por uma ótica de servilidade social. Eles continuam sendo o "doutorzinho", acima de qualquer questionamento. Falta uma visão mais profissional da função médica. Isto acaba por dificultar a punição. Este me parece mais um dos componentes fundamentais desse absurdo caso...

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  2. Certíssimo. Os médicos mudaram, muitos se tornaram mais preocupados com o dinheiro, perderam o propósito de salvar vidas a todo custo. Só a população que não mudou, ainda acredita neste homem como um segundo Deus. Infelizmente não o são. Não que eu quisesse que os médicos se comportassem como você mencionou, com essa servidão social. Mas, eles têm uma função muito digna quando desejam, porém nem todos pensam assim. Obrigada, adorei sua contribuição. Grande abraço, Carla Vilaça

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