Algumas
pessoas entram em nossas vidas e se tornam inesquecíveis. Foi assim com
Marcelo, um menino que conheci aos onze anos, vizinho da casa onde acabara de
me mudar com minha família. Me encantei por aqueles olhos verdes, escondidos em
óculos de aros de tartaruga, e pelo sorriso que provocava covinhas no alto de
suas bochechas. Para ficar mais tempo perto do Marcelo, eu saía correndo da
escola e o esperava embaixo do flamboyant
que ficava entre as nossas casas. E, juntos, ficávamos conversando e brincando
até a noite. Mas, como era mais novo do que eu, amadureci mais rápido do que ele,
e meu primeiro beijo foi com outro menino. Nosso romance só aconteceu muitos
anos depois, quando eu já estava na adolescência. Mesmo assim, a paixão foi
intensa e deveria ter durado a vida toda, se o destino não tivesse
desfavorecido nosso romance.
Aos 18 anos,
me mudei daquela rua e na noite anterior, eu e Marcelo nos despedimos com
muitos beijos. Misteriosamente, daquela vez, o pai dele não o chamou com um
assobio forte, como fizera todos os anos em que morei ali. Foi uma despedida
alegre, mas dolorida. Pela primeira vez nós dois, e todos os adolescentes da
rua, fomos dormir de madrugada. Era como se o tempo parasse para nos
despedirmos. Naquela época não havia celular e eu não tinha telefone em casa.
Para vê-lo, eu retornava à antiga rua, quase toda semana, com a desculpa de
buscar correspondências. Até que comecei a namorar sério com outro rapaz e ele
ficou sabendo. Ao recebê-lo em minha casa, recusei seu beijo, alegando que meu
namorado estava a caminho. Se eu soubesse que aquele seria o último, teria
agido diferente.
Parece que a
natureza luta contra a nossa felicidade em alguns momentos, e na juventude,
tudo se torna grandioso, e as perdas, de difícil entendimento. Quatro meses
depois, Marcelo morreu num acidente de carro, no auge da juventude. Nossa despedida,
agora, seria para sempre, sem direito a pelo menos, um abraço! Durante seu
enterro, uma moça chorava embaixo de uma árvore, abraçada à uma bolsa de crochê
que ele costumava carregar. Eu não lhe disse nada, não lhe abracei. Apenas a
observei, à distância, buscando em sua fisionomia, alguma semelhança entre nós
duas. Ela era totalmente diferente de mim, fisicamente e, pela primeira vez,
senti ciúmes do Marcelo. Foi o que ele sentiu, provavelmente, ao me ver com
outra pessoa. E tive ódio de mim!
Durante muito
tempo, eu sonhei com o Marcelo, depois que ele se foi. Sempre sorridente, me
dizia para ser feliz, que estava bem. Depois da tragédia, voltei poucas vezes
àquela rua, onde fui tão feliz. Ali cresci, fiz grandes amizades e me apaixonei
perdidamente. Mas, cada pedacinho daquele local me faz sofrer. Por mais que amemos
outras pessoas, cada romance é diferente, único. Não se ama todos de uma mesma
maneira. Eu e o Marcelo crescemos juntos, tivemos uma convivência por muitos anos,
mas o destino quis nossa separação. Mas, precisava ser tão abrupta? Um amor assim
não se esquece. Apenas deixa de lado, guardado num cantinho do cérebro. Não
para sofrer, mas para relembrar, só para relembrar!!!
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