quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Donas do próprio corpo!

Há dois anos, uma moça, grávida de um mês, procurou a minha ajuda a respeito de uma clínica de aborto em São Paulo, depois de ler sobre o assunto neste blog.  Embora o site forneça apenas endereços de hospitais que realizam o procedimento com a autorização da Justiça, ela encontrou em mim uma pessoa em quem pudesse confiar. Durante alguns dias, trocamos ideias, e lhe dei  conselhos, sem pieguice ou moralismos. Aquela moça precisava contar sobre o descuido com a falta de preservativo e sobre o homem leviano que a engravidou. Não fiz julgamentos, pois todas nós estamos sujeitas a passar por isso. E ninguém interrompe uma gestação por divertimento ou vingança. Trata-se de um método invasivo que pode levar à morte. Eu não quis saber detalhes da vida da moça, apenas deixei que relatasse seus problemas. Ela contou sobre a gravidez indesejada, sobre o aborto e a culpa que passou a sentir. Depois, desapareceu e não deu mais notícias.
Temos a mania de julgar os outros como se nunca tivéssemos errado em algum momento da vida. Aborto, provocado ou espontâneo, é sempre doloroso e por medo do castigo divino ou da Justiça dos homens, as mulheres que já passaram por isso, evitam falar sobre o assunto. Já outras, que nunca tiveram uma gravidez perdida ou interrompida mecanicamente, se sentem no direito de fazer acusações, escondidas muitas vezes em filosofias baratas ou sob o manto da Religião. O mesmo acontece no setor político, quando homens engravatados usam de seus poderes para impedir que nós, mulheres, possamos contar com clínicas especializadas para um procedimento que poderia ser seguro ao invés de clandestino, que causam danos por vezes irreversíveis em corpos que não são deles.
Desde os tempos mais antigos a interrupção da gravidez se dá de várias formas, assim como o infanticídio, quando a mulher mata o próprio filho para se livrar dele. Há casos terríveis que me recuso a contar, mas que poderiam ser evitados caso a mulher fosse respeitada em seus desejos. E o aborto é um direito da mulher. É ela quem deve decidir quando quer ser mãe, e se deseja a maternidade. Não é o homem ou a religião que devem impor sobre os nossos corpos. Somente nós, mulheres, é quem devemos tomar a decisão de engravidar ou não, de querer interromper a gestação ou de prosseguir com ela. Discursos inflamados e carregados de moralismos não servem para nada. Uma mulher, quando deseja ter um filho, faz tudo o que pode para tê-lo. Mas, se sente que a maternidade ainda não lhe tocou por dentro, irá interromper esta gravidez, seja através de clínicas clandestinas ou por meio de medicamentos ou outros métodos. Cada um tem o direito de pensar e agir como deve, desde que o outro seja respeitado. Aborto não é diversão. Gravidez também não. Um é o oposto do outro. Mas, a decisão cabe à nós, mulheres. Afinal, quem manda na nossa barriga, na nossa vida, na nossa vontade, somos nós e mais ninguém.

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