quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

No vai-e-vem do cavalo, ele era tudo!

Eu tinha acabado de chegar a Divinópolis e já estava pronta para retornar, mesmo com a insistência das amigas para ficar naquele feriado que prometia ser ótimo. Éramos jovens e animadas mas, um desentendimento entre nós me fez entender que os meus lençóis seriam mais interessantes do que piscina, sol e rapazes. Como só havia passagens para o domingo, comprei e prometi me divertir até o último dia. Já num restaurante, esperando atendimento, encontramos um amigo do namorado da minha prima e logo começamos a conversar. Aquele par de olhos verdes apertadinhos, que provocavam covinhas, cabelos loiros e um sorriso malicioso, me animou e para me fazer sorrir, começou a ler as minhas mãos. Não acertou o meu destino, de que me casaria cedo e teria três filhos, nem que nos apaixonaríamos um pelo outro. O primeiro beijo aconteceu à noite, quando o bonitão me levou para casa onde estávamos hospedadas. Ficamos nós dois ali, apenas ouvindo música, e eu resistindo às suas investidas mais sérias. Assim que a turma chegou, ele foi embora e nos encontramos no dia seguinte para uma viagem à fazenda de parentes. Pela estrada, ouvindo Raul Seixas (foi aí que me apaixonei pelo cantor), fomos no carro dele enquanto as meninas seguiam em outro automóvel. Muito carinhoso, qualquer parada era motivo para um beijo. 
Fomos recebidos com um café da manhã típico e convidados, depois, para passeios e atividades rotineiras de uma fazenda, como tirar leite da vaca e mochar os chifres dos gados. De mãos dadas como velhos namorados, eu o galã seguimos a pé, colhendo e chupando mangas, encontrando mistérios, como uma casa lotada de morcegos, que me causou pavor. À noite, a diversão ficou por conta de um baile de forró na vizinhança, uma casa simples lotada apenas de homens que chegavam direto da labuta, sem um banho. Recusar uma dança é ofensa, segundo a minha mãe, mas eu fui salva por estar acompanhada, ao contrário das minhas amigas, que tiveram que enfrentar aqueles dançarinos suados e alguns desdentados. Do lado de fora, embaixo de uma lua radiante, envolvida nos braços do bonitão, eu não queria outra vida.
O passeio do dia seguinte foi andar a cavalo e eu e minhas amigas pegamos carona com um funcionário da fazenda, por falta de experiência com o animal. Já a maioria dos homens cavalgavam sozinhos, entre eles o meu galã. De calça jeans, chapéu de cowboy e jeito de quem não está nem aí para o mundo, ele estava ainda mais lindo. Da varanda, ancorada no para-peito, eu o observava, sem que ele percebesse.  Naquele vai-e-vem do cavalo, fui fazendo planos com aquele moço. Estava disposta a tudo para tê-lo para sempre. Meus sonhos iam longe, quando fui lembrada pelos convidados de que teria que ir embora no dia seguinte, já que eu havia comprado a passagem de volta quando cheguei a Divinópolis. Só então me dei conta da besteira que tinha feito e que perderia um dia ao lado daquele homem. 
Eu teria que estar na rodoviária às dez horas para o embarque do ônibus. Conosco, de carona, a namorada de um amigo impediu o romance entre mim o bonitão. No meio da viagem, entreguei-lhe as chaves da casa onde eu e minha amiga estivemos hospedadas, para que ela as devolvesse ao dono, seu namorado. Aquela moça, que não parava de falar um minuto sequer, desembarcou no centro da cidade e seguimos caminho. Chegamos cedo demais e ficamos do lado de fora conversando sobre amor e sexo. Fiquei com medo de não resistir àquele amor, àquela sedução e o suor gelado e as mãos trêmulas começaram a tomar conta de mim. Muito calmo, ele pediu as chaves da casa, e nervosa, comecei a procurá-la na minha bolsa. Me lembrei que as tinha devolvido e a "minha primeira vez", ficaria para o próximo encontro.
Minha rotina, depois de três intensos dias, voltou ao normal com emprego e escola, mas os finais de semana mudaram, com visitas constantes à minha cidade para encontrar aquele rapaz. Ìamos sempre à barzinhos e casas de amigos, mas o nosso namoro não se aprofundou. Já desconfiada de que aquele moço não era para casamento, me resguardei novamente e a relação foi se esfriando, até o momento em que não voltei mais à para vê-lo. Nunca nos despedimos e eu nunca mais soube dele pelos amigos, que acreditavam que tínhamos nascido um para o outro. Foi uma relação forte, sedutora, mas superficial. Não deixou qualquer resquício de paixão, mas as lembranças são para sempre. Um homem assim, lindo, inteligente, carinhoso, compreensivo, só existe nos filmes. Seria demais encontrar tanta qualidade num simples mortal. E nem eu sou tão merecedora assim.

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