quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A mulher como melhor representação do samba!






Grupo de samba formado por mulheres: representação feminina
Desde os tempos mais remotos, o homem utiliza a dança como representação de seus sentimentos e desejos. Muitas vezes, por causa da sensualidade e da ousadia, sua execução acabava sendo proibida, como foi o caso do tango, na Argentina, e do samba, no Brasil do século 19. Numa época em que os corpos eram escondidos por vestimentas pudicas, mostrar as pernas e requebrar os quadris era uma afronta aos bons costumes e à moral. Apesar disso, as danças foram se modificando e atravessaram séculos, tornando-se símbolos de seu país de origem. Mas, se as duas danças evidenciam a sensualidade feminina, nem sempre foi assim. Quando surgiu, o tango era executado apenas por homens, enquanto o samba era dançado pelos escravos, vindos da África. Com a popularização das duas danças, o sexo feminino pôde dar um salto em sua libertação e as roupas colantes ou curtas passaram a compor o figurino, evidenciando ainda mais o corpo da mulher, em seu remelexo, de um lado para o outro.
O Rio de Janeiro ajudou a popularizar o samba nos anos 20 e,  durante o governo de Getúlio Vargas, nos anos 40, a dança passou a ser um símbolo nacional. No entanto, naqueles tempos idos, a mulher não era bem vista no mundo musical. Tanto que algumas compositoras, como Ivone Lara, no início da carreira, usaram pseudônimos masculinos para apresentarem suas músicas às gravadoras ou escolas de samba. Antes dela, Chiquinha Gonzaga também passou bons bocados para se fazer respeitar como musicista. Contudo, 200 anos depois do nascimento do samba, a participação feminina ainda é pequena no território do samba. Pensando nisso, as instrumentistas, Andreza Brasil e Fernanda Martins, formaram, no início de 2015, o grupo de samba carioca Bela BatuQada, composto apenas por mulheres. Tendo à frente a vocalista Marianna Mattos, as integrantes tocam instrumentos, como surdo, repique, caixa, agogô, chocalho e tamborim. Apesar da determinação, o grupo teve dificuldade em encontrar profissionais femininos qualificados, sendo obrigadas a convocar as amigas e buscar interessadas nas redes sociais.
Não se sabe ao certo a origem da palavra samba, mas acredita-se que possa ter surgido do termo árabe "Zambra" ou "Zamba",  ou da palavra africana, "semba", que significa umbigada. Comparado ao tango e ao maxixe, o samba possui variações: samba-enredo, samba-de-breque, samba-de-partido-alto, samba-canção, samba-de-gafieira, entre outros. Principalmente interpretado por homens, nos anos 70 as sambistas Clara Nunes, Beth Carvalho e Alcione surgem como representantes deste segmento, abrindo caminho para outras mulheres, como Roberta Sá. No exterior, o samba ficou conhecido principalmente através da cantora Carmem Miranda que, com seus turbantes e requebrados, encantou Hollywood.
Contudo, se o samba é comandado principalmente pelo homem, são as mulheres que melhor o representam. Não apenas pela malemolência dos corpos, mas por entender que o batuque é mais do que o sofrimento de uma correia nas costas de um escravo. As mulheres compreendem que o samba tem o significado da liberdade e que foi através dele que nos despimos das roupas incômodas e apertadas do século retrasado.
Se nos Estados Unidos as feministas utilizaram o sutiã como protesto pela liberdade, nos anos 50, aqui no Brasil nós fomos mais ousadas, sem queimar peças íntimas, há dois séculos atrás. Copiando a liberdade das escravas, no seu modo de vestir e de se comportar, aderimos as amarrações das negras no nosso cotidiano e aprendemos a usar badulaques nas orelhas, pescoço e braços. Conseguimos extrair do samba, não apenas o ritmo, mas a alma ensanguentada dos que sofreram nas mãos dos senhores de engenho.  O requebrado, que antes era proibido pela sociedade escravocrata, hoje é a personificação da mulher atual, que não tem medo da sociedade, que ao contrário, a enfrenta de peito aberto, para se fazer respeitar nos mais diferentes ambientes, seja ele familiar ou social. E, como lembrou Andreza Brazil, do Bela BatuQada: "o lugar da mulher não é na cozinha, é aonde ela quiser!”

3 comentários:

  1. Olá! Adorei o texto! Venho também divulgar meu blog de literatura feminista. Já estou no segundo texto, que conta com um relato verdadeiro sobre uma experiência que tive logo no início da faculdade. Espero que gostem e, se assim for, repassem o link às companheiras de luta! Acessem: http://minacontamina.blogspot.com.br/

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  2. que legal. temos mesmo que nos manter unidas contra o machismo aburdo, autoritário. obrigada pelo elogio ao texto e vou ver o seu site daqui a pouco (fiquei curiosíssima para ler). grande abraço, carla vilaça

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  3. nossa, que coragem a sua. adorei seu texto, sua história. não se importe com o que os outros pensem de você, com o sorriso falso que te dão e jamais espere uma palavra amiga. nem sempre elas são verdadeiras e não fazem falta. seja você mesma, vista sua camisa da coragem e siga em frente. Azar de todos que deixam de te conhecer, de verem o seu valor. É que eles estão cegos na ignorância. parabéns. Mulher é isso: ser feliz e pronto, do jeito que ela quer, da maneira e com quem quer que seja. afinal, nós é que somos donas das nossas vidas, e mais ninguém. beijo grande. boa sorte. carla vilaça

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