Eu tinha 15 anos quando
o conheci, numa escola particular, sendo ele professor e eu, uma aluna
amedrontada pela experiência de estudar à noite pela primeira vez. Tudo me
assustava: o horário, os novos colegas e a volta para casa, sozinha, sem a
presença dos meus pais. Foi um choque, agravado pela minha timidez de
adolescente que se assusta com pessoas que não fazem parte do seu grupo. Pensei
em desistir, principalmente porque no dia da matrícula, houve um suicídio de um
homem no prédio, presenciado pelos alunos. Usei a desculpa do incidente para
tentar convencer a minha mãe em não me deixar ali mas, para ela escola é um
bem precioso e naquele momento não tinha como voltar atrás.
Desanimada, tentei
fazer amizades, e fui acolhida por um garoto que depois se tornou um grande
amigo e confidente, até sua morte trágica alguns anos depois (ele foi
importantíssimo nesta história de amor). Uma colega, vestida de forma sensual,
me avisara de que rapidamente eu me acostumaria à rotina daquele colégio. Outra
me confidenciou que a grande paixão das garotas era um professor de Biologia,
que daria aulas no próximo horário. Muito calada (sim, já fui de pouquíssimas
palavras!) eu tentava passar a imagem de mulher séria (aos 15 anos!), numa tentativa
de demonstrar aos desavisados de que nada me amedrontava.
Eu ainda estava
apaixonada por um ex-namorado (cujo nome é o mesmo do professor) e pretendia cumprir a promessa de não me enlouquecer
mais por rapazes que destroem os corações femininos, quando aquele homem entrou
na sala, desmoronando todas as minhas promessas. Fazendo brincadeiras, com cara
de quem sabe enlouquecer uma mulher, ele percebeu que eu era novata e me
perguntava, a cada explicação, se havia dúvidas da matéria. Me senti importante
porque toda atenção era dirigida à mim e não às outras estudantes, que haviam
me advertido de seu charme e da paixão delas por ele.
Acostumada a ver a
vida em revistas femininas, comecei a perceber que elas nada sabiam sobre
paixão e homens. Inexperiente no jogo do amor, eu usava meus poderes de menina,
que acha que é mulher, para conseguir os garotos em festinhas, mas aquele
homem, adulto, me tirava do sério. Ele nada tinha a ver com os meninos da minha
idade e rapidamente eu já estava de quatro (sem trocadilhos!) por aquele
professor. Para instigá-lo, eu fingia não entender suas explicações, só para
conseguir sua atenção ao final da aula. E, de vez em quando, me satisfazia com
suas brincadeiras sedutoras de que se casaria comigo. Menina-moça, eu
acreditava e sonhava com o dia em que teríamos uma longa lua-de-mel.
No final daquele ano,
saí do colégio com a sensação de que deixara ali um grande amor não
correspondido, e toda a minha chance de viver um conto-de-fadas. Sabendo da
minha paixão, meu colega – do início deste texto – conseguiu o nosso encontro numa festa entre amigos e novamente minha timidez veio com toda força e eu
quis ir embora, mas o local era longe e não havia transporte. Tive que esperar
até a manhã seguinte, profundamente arrependida de estar ali, no meio de tanta
gente estranha. Mas, durante a madrugada o professor me beijou e passamos
juntos a noite (só dormindo, porque naquela época, ficar com alguém era
sinônimo apenas de beijos, por mais calientes
que fossem).
A estranheza das
companhias, do lugar e da situação, se ampliaram quando acordamos. À luz do dia
tudo se torna real e é hora de voltar à vida de antes. Após o café da manhã,
viemos embora num carro de um dos convidados e permaneci calada (muda!), até
que me deixaram num ponto de ônibus. Antes, porém, um selinho dado pelo
professor. Nada de troca de telefones, nada de promessas de saídas futuras,
nada de nada (onde estava o meu pedido de casamento? Onde foram parar os meus
sonhos de me tornar mulher com aquele homem? Cadê a minha lua-de-mel?)! Me
senti um lixo e chorei muito no caminho para casa. Quem sabe eu tivesse apenas
sonhado? Quem sabe ele não gostou do meu beijo? Talvez eu não merecesse a
felicidade, eu pensava, com todo o martírio destinado aos sofredores!
Durante muito tempo
eu me culpei por aquela noite. Talvez se eu fosse uma mulher e conhecesse os
segredos do sexo, meu professor teria se casado comigo e teríamos sido felizes
para sempre. Mas, a vida é cheia de surpresas e nem sempre o que imaginamos é o
que acontece. Três anos depois, liguei para a casa do Rogério e a empregada me
disse que ele havia se casado. Era inacreditável. Outra mulher (sim, desta vez
uma mulher, adulta, provavelmente conhecedora das artimanhas femininas!) havia
entrado em sua vida, desmanchando, desta forma, toda a minha ilusão de aluna
apaixonada pelo professor. Mais uma vez chorei, desta vez com mais intensidade.
Não se quebra uma paixão assim, não se torce um coração daquela maneira. Eu
odiei aquele professor, eu detestei aquela intrusa, tomei raiva de tudo. Talvez
eu nunca mais encontre aquele homem e talvez ele jamais saiba o sobre a minha paixão. Ele foi um grande amor, jamais esquecido!
Beijos,
Carla Vilaça
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