No segundo período da faculdade de jornalismo, me deparei com uma situação inusitada logo no início do semestre letivo. Uma aluna, de família classe média, roubou o dinheiro de uma colega durante o intervalo. Descoberta, a acusada nada disse diante da ferocidade dos alunos. Todos gritavam que a queriam fora daquela sala. Eu permaneci calada até que a chefe de turma passou uma lista para que todos assinassem. O "documento" fazia graves acusações à aluna e a denominava como psicopata. Quando me neguei a assinar, a confusão foi geral, houve protestos de alunos e ofensas. Não me intimidei e comparei aquela cena com a de Madalena, personagem bíblica, que foi apedrejada em praça pública. Jesus a salvou, perguntando à todos, se eles nunca haviam cometido um erro na vida.
Eu não quis repetir o gesto de Cristo, mas naquele momento, alguém tinha que fazer alguma coisa, já que a faculdade deixou nas mãos dos alunos o destino daquela moça. Lembrei que todos cometem erros, que o dela foi grave e que ela pagaria, mas não seríamos nós os juízes. Observei ainda que ali ninguém tinha capacidade para fazer análises médicas sobre uma pessoa. E mais: um jornalista, antes de tudo, deve ouvir as partes e não tomar como certas suas opiniões particulares. Eu mesma rasguei aquele abaixo assinado, disse que não assinaria e chamei de covardes os que colocassem seus nomes ali. Diante disso, o protesto morreu e o "apedrejamento" terminou.
A aluna, acusada do roubo, teve que mudar de curso e eu me transferi para outro turno. Não fiquei sabendo do futuro de ninguém daquela sala. Quando enfrentei todos eles para defender alguém que eu mal conhecia, não o fiz por mim, mas pela garota. A vi ali, encolhida, diante de tantas acusações e xingamentos, e me coloquei em seu lugar. Não sei se ela se formou em História, se hoje é uma boa professora, ou se teve a coragem de fazer jornalismo novamente. A encontrei um ano depois, num supermercado, e ela me agradeceu. Isso, para mim, foi o bastante!
Parabéns pela atitude e coragem de enfrentamento
ResponderExcluirOi, Anônimo, muito obrigada pelo comentário. Adorei. Saber que a menina não perdeu os estudos foi realmente gratificante para mim. Beijo grande. Carla vilaça.
ResponderExcluir