segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Até os beijos mudaram!




Sempre fui atrasada em questões do amor e meu primeiro beijo aconteceu aos 14 anos, quando minhas amigas já estavam experientes no assunto. E foram elas que me mostraram o que fazer quando "o momento chegasse". Após as instruções, eu ensaiava no espelho e observava cada ângulo do meu rosto para não fazer feio diante do rapaz. Mas, apesar dos ensaios, não foi o que esperei. O tão sonhado encontro de lábios, na verdade, me causou nojo e constrangimento. Decepcionada, após cada beijo, eu corria para escovar os dentes, me perguntando o porquê daquilo. Seria mais fácil se já nascêssemos sabendo beijar.
Em resposta aos meus questionamentos, minhas amigas, práticas e emancipadas, me alertavam que, no futuro, eu até sentiria falta dos beijos e que o início de tudo é sempre muito ruim. E segui assim, acreditando que um dia os toques labiais, e linguais, me fariam feliz. Alguns meses depois, eu já estava de namorado novo. Um relacionamento rápido, como vários que se seguiram. Mas, ainda não era tão bom. Faltava alguma coisa. Eu não conseguia juntar emoção, beijos, abraços e palavras românticas. É muita coordenação de uma vez só e meu cérebro não conseguia anexar tudo ao mesmo tempo. 
Não demorou para a confirmação da fala das minhas amigas. Nas festinhas corriqueiras eu sempre acabava beijando alguém, para assim, ter experiência. Por enquanto fui aprendendo apenas a técnica, passando ao segundo módulo, o das emoções. Somente ao final do curso é que nos era permitido toques mais íntimos, o que no meu caso demorou ainda mais, evidentemente. Na turma de amigos eu era conhecida como "A Difícil" e os meninos chegaram a fazer uma aposta para saber quem me beijaria primeiro. Nenhum deles ganhou a caixa de cerveja que seria sorteada.
Hoje os tempos mudaram e os beijos já não causam pavor. As garotas ultrapassam as etapas e muitas vezes, partem logo para o sexo. Mas, na minha adolescência, ser beijada ou despertar o interesse de algum rapaz, era como se fosse um prêmio. E o romance, que começava com uma música lenta, terminava com beijos escondidos dos pais e raramente dava em namoro. Como acontece atualmente, também não queríamos compromisso na juventude. A ideia de casamento nos causava pânico. No entanto, fomos aprendendo a usar o nosso cronômetro, que apitava ao menor sinal de avanço dos rapazes. Hoje se pode tudo. Não há tempo a esperar. Os beijos continuam os mesmos, mas se tornaram banais. Falta hoje, o que sobrava no passado: a ansiedade, a espera e a surpresa, elementos cruciais para o aflorar das emoções.

Um beijo.



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