sábado, 10 de fevereiro de 2018

A beleza que vem da alma!




A beleza natural é uma espécie de prêmio, concedido por Afrodite (https://pt.wikipedia.org/wiki/Afrodite)a poucos afortunados. Não há o que questionar, se um rosto não apresenta defeitos ou se um corpo nos enche de admiração pelos traços bem feitos. O privilégio é ainda maior quando tudo se apresenta numa única pessoa, o que não é muito comum. Afinal, todos nós somos um pouco como o pavão, que esconde os pés, horríveis, ao abrir suas asas lindas, quando deseja impressionar. Entre nós, humanos, não há perfeição,  porque, muitas vezes, uma pessoa belíssima pode se tornar horrível por seus gestos com o outro.  E o contrário também pode acontecer. É possível que alguém se torne bonito aos nossos olhos, quando ele se mostra generoso, educado e charmoso.
Mas, a beleza é efêmera e não resiste ao tempo. Por mais que os cosméticos e plásticas dêem uma aliviada, é impossível a falta de rugas. Você vai me dizer que algumas personalidades, como as atrizes Bruna Lombardi e Vera Fischer, continuam lindas apesar da idade. Sim, são ótimos exemplos, mas os cabelos brancos, com certeza são pintados e a pele do rosto foi esticada, nem que seja um pouquinho, pelas mãos de cirurgiões fantásticos. Mas, não é assim para simples mortais como eu e você, por exemplo. Sem contar que nosso cotidiano é bem mais comum do que a vida de celebridades que vieram ao mundo à passeio. Pegando transporte público, sem luxos e mordomias, não sobrevivemos à tantas décadas como se tivéssemos 20 anos de idade. As dificuldades parecem que tiram a vitalidade e cansam nossa alma. Nem sempre temos a oportunidae de aventuras amorosas ou viagens nas férias. Temos, sim contas a pagar, acordar muito cedo e comer rápido o que se consegue, dada a quantidade de tarefas diárias.
No início da minha carreira como professora, tive uma aluna que chamava a atenção pela beleza e simpatia. Aos 8 anos de idade, com olhos azuis-escuros e cabelos longos castanhos, ela era a versão morena da atriz Maitê Proença, um sucesso da época. Com tantos atributos, era certeza de que seu futuro seria maravilhoso, com todas as portas abertas para que alcançasse o sucesso. Mas, não foi bem assim. Uma década depois, trabalhando num supermercado como demonstradora de produtos, a encontrei numa situação difícil. Estava à procura de um emprego e me pediu indicação. Conversamos rapidamente, ela se despediu com um aceno frio e nunca mais soube de sua vida. 
Depois de tantos anos, me lembrei da Ana Carolina hoje cedo. Talvez ela tenha se lembrado de mim também e, num cruzamento de pensamentos e lembranças, partisse para um balanço, como o que faço agora. Naquele encontro não reparei em sua beleza porque ela já não existia. O brilho no olhar dera lugar à tristeza  e os cabelos, sempre sedosos, estavam presos num rabo-de-cavalo. Mas, o que mais me chamou a atenção foi a falta do sorriso largo daquela garota. Eu não tinha visto dentes tão brancos e naquele dia eles mal apareceram durante nossa conversa. Havia algo que não batia com o corpo e o rosto daquela jovem, que um dia fôra objeto de disputa entre os meninos da escola e motivo de inveja das alunas. Não tive tempo de saber. Ela estava muito apressada em busca de um emprego que garantisse o pagamento de suas contas.
A beleza é uma dádiva e pode abrir portas numa sociedade que valoriza o ter mas, ela não é o suficiente para garantir boas chances no mercado de trabalho. Minha ex-aluna, mais bonita e mais jovem do que eu, passava por momentos difíceis e via, naquele momento, o mundo cinzento. Sua vaidade dava lugar ao desânimo e à descrença e não há rosto bonito que suporte tantas decepções. Carol não precisou de muitas palavras para esboçar seus pensamentos. Estava tudo escrito em seus olhos. Os mesmos olhos azuis-escuros, que um dia me causaram tanta admiração, estavam rodeados de olheiras. Opacos, não transmitiam mais a luz que, na meninice, representavam sua alma. Por um dia, naquele dia, me senti mais bonita do que aquela menina.


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