sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A inocência e a covardia!

Eu sou viciada em leitura, e um dos livros que mais me marcaram, na vida, foi "Papillon", de Henri Charrie, autor francês, cuja obra inspirou um filme americano, com o mesmo título. Embora minha memória seja um pouco fraca, nunca me esqueci de tantos ensinamentos daquelas páginas, que faço uso até hoje. Entre elas, uma passagem em que o autor se decepciona ao pegar carona com três freiras e contar-lhes que guardava pérolas num saco de pano. Elas lhe deram abrigo, no convento, e ao acordar, além de ter sido denunciado à policia pelas religiosas, elas ainda o roubaram. É assim mesmo. A confiança que às vezes depositamos em pessoas, aparentemente inofensivas, pode ser desastrosa. Assim como Charrier, também me decepcionei várias vezes, acreditando que a farda, o hábito ou um jaleco, são garantias de segurança.
Na faculdade, eu tive uma séria depressão, e desabei a chorar quando recebi uma nota baixíssima de uma disciplina. Acabei me desabafando com a professora, que se mostrou atenciosa e carinhosa. Ela chegou a me abraçar e a pegar na minha mão oferecendo ajuda, e assim o fez, até que ao final do semestre veio a bomba: ela me reprovou, depois de todo o meu histórico desnudado, sem pudor, para aquela docente. Com cara de assustada - e a dela de prazer - eu não acreditava no que fizera comigo. Não era possível que tivesse sido tão falsa durante todo aquele tempo. Cheguei a lhe pedir satisfação, mas ouvi o que não desejei e chorei o restante em casa.
No semestre seguinte tranquei a matrícula e fiquei quase um ano sem estudar, cuidando apenas da saúde emocional. Fiz terapia, consegui um emprego e voltei para a faculdade, quando todos pensavam que eu jamais retornaria. Fortalecida, fiz questão de escolher outra professora para a tal disciplina e prometi ser mais discreta e desconfiada. O risco de se encontrar com pessoas traiçoeiras e muito grande. Porém, a nova professora já sabia da minha história, através de alguns alunos, e prometeu uma ajuda psicológica e pedagógica, que me foram de grande valia. Poucas vezes conversamos, mas seu jeito de ensinar não deixava dúvidas de seu respeito por mim.
Me formei em 2006 e antes de deixar a faculdade, agradeci toda a atenção da professora Dulce comigo. Quanto à outra docente, faço questão de esquecê-la. Mas não tem como apagar da memória as suas aulas chatíssimas, as nossas conversas em que me abri demais, e a decepção que tive com ela. Meiga por fora, e ruim por dentro, ela é a personificação das freiras malvadas do Henri Charrier. Ela sabia que eu tinha pérolas guardadas. E foi desrespeitosa com o meu segredo. Me expôs e pediu a minha "prisão". É exatamente assim que fazem os covardes!

Ótimo final de semana. Beijos,

Carla Vilaça

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