segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Sem sonhos mirabolantes a vida fica mais fácil!

Retornei hoje ao trabalho, depois de 45 dias de férias, com a sensação de tempo perdido. Tudo o que eu programei não concluí, apenas coloquei em ordem armários e separei papéis velhos a serem inutilizados. Para sair da rotina estressante de horários marcados, eu me deixei levar pela sonolência, algumas vezes, chegando a acordar ao meio-dia. Como não gosto de viajar, aproveitei para fazer quitandas e aprimorar o meu talento culinário para bolos até então não testados. As horas que me sobraram, serviram para pequenas faxinas. Por outro lado, meu marido (ainda somos casados oficialmente) aproveitou todo os dias para descansar, viajando (sem mim, claro), arrumando o carro e resolvendo problemas pessoais, visitando pessoas, além de descansar bastante em frente a TV. Ele visitou os pais, os amigos, os parentes, enquanto eu fiquei em casa, cuidando do nosso filho de seis anos. Eu odeio ficar hospedada em casa de terceiros e raramente faço visitas, por isso fui apelidada por ele de Bicho do Mato, mas não me incomodo. Dez anos mais jovem do que eu, o Humberto adora se divertir, acampar, dançar varando a noite, enquanto sou caseira e durmo cedo. 
Mas, não são as diferenças que causam atrapalhadas no casamento, mas e sim a falta de respeito pela maneira de o outro ser. Sair com amigos não quer dizer traição à esposa ou marido, mas se esbaldar noite afora é no mínimo, desconsideração. Para dar certo, o casal tem que ver a vida com um olhar parecido, ter os mesmos desejos e não ficar culpando a outra pessoa pelo que ela não consegue, ou não quer ser. Durante a minha juventude eu gostava de sair aos sábados à noite sem ter hora para voltar. Com uma turma de amigas, pegávamos carona, frequentávamos barzinhos e festas e só o fato de estar fora de casa já era garantia de diversão. Aos poucos, meu gosto foi mudando e fui passando a ser mais exigente comigo, entendendo que o meu corpo não suporta madrugadas nem mudanças bruscas de ambiente. Não se trata de velhice, mas da constatação de que a felicidade não está onde plantamos, mas ela consiste no dia-a-dia, na simplicidade de um aconchego na cama em lençóis limpos de algodão. 
A vida glamourosa, por muitos anos, me tentou. Quando eu fazia teatro, meu sonho era receber prêmios por minha atuação e oferecê-los à pessoa amada, num palco de Hollywood, em meio a uma plateia lotada de astros do cinema. Em meus devaneios, eu estava sempre linda num vestido colante ao corpo esbelto, os cabelos sedosos e a maquiagem impecável. Logicamente, não passou de pesadelo. Não foi por falta de tentativas, mas ser artista depende mais da vontade, do compromisso com o outro do que consigo mesmo. Por isso, não raro vemos artistas reclamando do assédio e serem mal interpretados pelos fãs e pela mídia. É que atuar é uma coisa, e ser assediado é outra, mas como nesta profissão as duas situações se confundem, o artista tímido ou muito sério acaba sendo antipatizado.
Mais jovem ainda, eu sonhava em ser Miss Brasil e ganhar o mundo em viagens de compromissos, em que seria agraciada pelas pessoas, que me achariam linda demais e muito inteligente. Na vida real, jamais fui boa atriz e participei apenas de um concurso da garota mais bonita da escola, sendo a escolhida da minha sala, mas não passou disso. No entanto, deu para sentir o gostinho das festividades e entender de uma vez por outra, que aquela não era a minha praia. Não gosto de bajulação, amizades fúteis e noitadas sem fim e comecei a perceber que aquela vida não era a que eu desejava, e só agora entendo que eu seria muito infeliz com a provável movimentação que circundam os famosos. 
Depois de tantos anos, tantos sonhos, tantas decepções, finquei o pé no chão de vez. Foi bom ter tentado mudar o meu destino e ter percebido que ele não se transforma, pois muitas vezes, é comum darmos voltas e retornamos no mesmo lugar, como se tivéssemos que seguir por uma trilha pré-determinada pela Natureza. Meu marido é como o teatro e o glamour em minha vida. Por um tempo me alimentou, me fez feliz, mas hoje não garante mais a minha alegria. Um dia os dois fizeram parte dos meus dias, mas eu fiz planos demais e errei. Nem um nem outro me merecem, pois exigem de mim uma pessoa que não sou. Seria uma doação a contra gosto por um tempo longo demais. De peito aberto, sem mágoas nem saudosismo, agradeço o aprendizado, mas foi só. Não quero tapete vermelho, nem amizades, quero apenas um dia atrás do outro, sem muitos planos excepcionais. Meu futuro já chegou. Se era tão simples assim, porque será que compliquei tanto no passado? Me faltava sabedoria, o conhecimento das coisas simples, que somente a vivência traz.

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