domingo, 17 de janeiro de 2016

Casamento terminado não é fracasso pessoal!

Há poucos meses de completar dez anos de casada, decido me divorciar. Não foi por falta de tentativas de continuar com o casamento, mas a relação chegou ao fim. Descobri, durante todo este tempo, que eu e meu marido não combinamos em nada, temos temperamentos e gostos completamente diferentes e insistir machuca ainda mais cada um de nós. Logicamente, que quando nos casamos estas diferenças já existiam, mas elas ficavam obscuras, escondidas pela cortina do romance. Com o tempo, o sol foi entrando pela janela e mostrando um lado do outro que desconhecíamos. A rotina do sexo diário e o beijo na boca, no início do dia, foram dando lugar a um distanciamento quilométrico. Era a realidade mostrando suas garras, anunciando que o amor estava no fim. 
Nossa primeira separação, informal, se deu com seis meses de casamento, após uma grande discussão sobre espaço e afazeres domésticos. Como mulher, trabalho fora e me sobra pouco tempo para deixar a casa impecável, mas meu marido exigia que ela estivesse sempre limpa, para ele chegar e se deitar ao sofá, enquanto assistia TV. Meus sábados eram exclusivos para estas tarefas e por isso eu acordava cedo e começava a faxina, até que comecei a cobrar dele uma ajuda. Não deu certo. Aos poucos, a cobrança foi ficando pior e a preguiça dele também. Num fim de semana, irritada, fui dar um passeio e ao voltar, ele não estava mais. Não deixou um bilhete sequer, não atendia o telefone e suas roupas e objetos não estavam no armário. Caí no choro e no dia seguinte, depois de uma longa conversa, reatamos e prometemos ser mais cautelosos, mais colaboradores e pacientes um com o outro. A promessa durou alguns anos.
A segunda briga séria entre mim e meu marido aconteceu depois que tivemos o nosso filho, que hoje está com seis anos. Eu engordei demais, não tinha tempo para me embelezar, e ele me cobrava vaidade e atitudes de mãe experiente, que eu não tinha. Tudo era motivo de discórdia e as discussões me deixavam terrivelmente desorientada, aumentando ainda mais a minha depressão pós-parto. Já cansada de suas críticas, pedi que ele fosse embora e assim o fez. Meu marido ficou fora de casa por alguns meses, mas nosso filho, então com sete meses, começou a sentir a sua falta, e eu também. Os cômodos ficaram vazios e eu o esperava chegar a qualquer momento, mas ele é turrão e do interfone pedia que eu levasse nosso bebê para vê-lo. Por insistência de parentes e amigos chegamos a participar de um encontro de casais na igreja do bairro, mas as conversas e os conselhos não serviam para nós. Desisti e não completei o curso. Tudo o que eu precisava era de amor e carinho e não de conversas alheias. 
Decidimos, então, tentar mais uma vez, mas nossas almas já tinham experimentado a separação e elas gostaram, sentiram o gosto da liberdade total, da solteirice desmedida. Enquanto eu ficava em casa, meu marido passou a demorar ainda mais no futebol e nas viagens de fins-de-semana a trabalho, enquanto as minhas desconfianças aumentavam. Minha neurose incluía vigília a telefonemas e mensagens, até que me dei conta da destruição que estava fazendo na vida. Depois de tantas brigas, joguei a aliança no lixo, percebendo que há tempos ele deixara de usar a dele. Os assuntos, que na época do namoro eram infindáveis, não havia mais. Cada um passou a ser sozinho, mesmo compromissado. Uma situação abominável e incômoda. Chegar em casa, depois do trabalho só valia a pena por causa do meu filho.
Conversas, com o tempo, não valem mais. Elas se tornam fiapos de uma relação que insiste em continuar, apesar dos problemas. Discussões, quando acontecem diariamente, por qualquer motivo, só tendem a piorar e o ambiente vai se tornando poluído por cobranças, desconfianças, desrespeito, desprezo. Casamento não é fácil e para mantê-lo, antes de tudo, é preciso muita admiração, verdade, companheirismo. Sem isso, é melhor desistir e foi o que eu fiz. Não me sinto arruinada, nem frustrada, pela relação que não deu certo. Não sou mulher de fingir sentimentos. Se não estou mais feliz não há porque arrastar uma relação doentia, insatisfatória. De tudo isso ficou a experiência do casamento e da maternidade, dois sonhos realizados. Ainda amo o homem com o qual me casei, mas me amo muito mais, e não nasci para me negligenciar.
O fim de um casamento não é sinal de fracasso. Simplesmente não deu certo e não há culpados. Uma relação entre duas pessoas diferentes, que passam a dividir suas intimidades após um tempo de convivência é uma tarefa difícil, que envolve sentimentos e atitudes que às vezes não condizem com nossas expectativas. Muitos dizem que é preciso ceder no casamento, mas eu me pergunto em quê, pois os homens gostam de fazer tudo o que desejam e precisamos, então, fingir que aceitamos para que o relacionamento dê certo? Então não posso cobrar ajuda do meu marido nas tarefas domésticas e cuidados com o nosso filho, enquanto ele joga futebol com os amigos, sem ter hora para voltar? Se ele viaja para visitar os parentes e fica mais do que o prometido, tenho que fingir que não percebi e devo recebê-lo com carinho? Sem contar as saídas intermináveis para arrumar o carro, fazer compras ou tratar de assuntos pessoais... Não, essa decididamente não sou eu. Se casamento for isso, estou certíssima de ter dado um fim nele. Sem nenhuma culpa, eu prefiro não ter trabalho com os homens. Ceder não significa fingir que não percebe os abusos do cônjuge. Quer dizer que em algum momento ele pode ter razão, mas não sempre. Meu temperamento não é de aceitação total, mas de divisão: de tarefas, de contas, de prioridades. Como eu estava esquecida nesta relação, acho que cedi demais e agora quero me resgatar. E como eu me esqueci de mim mesma: por dez anos.

2 comentários:

  1. obrigado por essas dicas, gostei bastante

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  2. Que bom que gostou, Antônio. Obrigada pela participação. Um grande abraço, Carla Vilaça

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