Cresci com a ideia de que dentes fortes são meio amarelados,
e não brancos como os pelos de um coelho. Por esse motivo, sempre me recusei a
fazer um tratamento de clareamento dentário, mesmo diante da insistência do meu
dentista. Se o procedimento não se tratasse de desgaste dos dentes, eu até
poderia arriscar, mas saber que clareamento não combina com o corante de alguns
alimentos, por si só já me desmotiva. Apesar de não ter inclinação para a área da
saúde, gosto de acompanhar as novidades odontológicas e fazer comparações com a
dentição de artistas ao longo de suas vidas. Até a adolescência eu guardava, em
pastas, reportagens que mostravam atores e atrizes, antes da fama, com arcadas
tortas, manchadas estragadas e, depois com o novo sorriso estampado nas
revistas. Hoje, a internet se tornou minha ferramenta favorita para estas
comparações do “antes e depois” dos dentes de famosos.
Saber que alguns artistas, como Tom Cruise e Demi Moore
mudaram suas feições após procedimentos ortodônticos é, no mínimo, delicioso e
compensador. E o que dizer, então, da cantora Whitney Houston, cujas falhas na
arcada dentária, só vieram a público depois de sua morte, num programa americano,
especializado em autópsia? No Brasil, os casos que mais chamaram a atenção
ultimamente foram os tratamentos dentários dos cantores Belo, que implantou 23
coroas e de Anderson, do Grupo Molejo, que implantou 12 de porcelana, e do
jogador de futebol, Ronaldinho Gaúcho. Mas, há outros artistas que se submetem
a tratamentos e não anunciam em rede nacional. Não por discrição apenas, mas
por vergonha.
Possuir todos os dentes, até a vida adulta, não é tarefa
fácil, principalmente por causa da alimentação atual, carregada de açúcares e
farináceos, que contribuem para a formação de tártaro e cáries. Já a limpeza incorreta
permite a proliferação de bactérias na boca, sem contar que algumas pessoas
utilizam palitos de dentes, que além de nojento, ferem as gengivas. Talvez por
essa dificuldade em manter a dentição por toda a vida, os dentes sejam tão
valorizados, e o tratamento, tão caro. É um custo, que na maioria das vezes, o
brasileiro não tem como arcar, e por isso, percebe sua dentição se desfazendo à
medida em que envelhece.
Na adolescência, meu amigo encantava as pessoas pelo sorriso
largo e dentes muito alvos. Bem-humorado, sua gargalhada contagiava e era
impressionante ver aquela arcada retilínea sem uma cárie sequer. Depois de
alguns anos, o recebi para uma conversa e não tinha como perceber que lhe
faltara um pré-molar. No alpendre, sentada em frente a ele, eu observava sua
gengiva vermelha e inchada e imaginei tratar-se de gengivite, escorbuto ou
outra doença específica. Mantendo discrição, imaginei que perderia toda a
dentição, caso não fizesse um tratamento. Meu raciocínio se confirmou, quando o
encontrei num ponto de ônibus alguns anos depois. Meu amigo estava banguela e
me sorria com a boca larga como antes. Ele me apresentou a noiva, conversamos
um pouco e me despedi sem graça.
Tive a sensação de que falhei com amigo. Eu poderia ter-lhe
avisado que sua dentição estava em risco, mas é um assunto delicado e não
tínhamos tanta intimidade assim. Talvez, sem perceber, meu amigo perdera o que
tinha de mais bonito. Mas, se eu fiquei preocupada, ele nem se importou e
levava a vida normalmente, sem dentes. Ao contrário de mim, que chorei muito
nas vezes em que extraí os meus sisos. Mas, a meu ver a questão não é apenas
estética, mas funcional. Ao substituirmos os dentes por dentadura, como era
frequente há algumas décadas, a voz muda, como no caso do cantor Francisco
Alves, além da higiene ficar comprometida. Essa troca de dentes verdadeiros
pelos falsos era tão comum que constantemente víamos os adultos com um lenço na
boca, após a extração completa no dentista.
Os tratamentos ortodônticos avançam com novidades que surgem
a cada ano. São implantes, branqueamentos, aparelhos móveis e fixos, tudo para
melhorar a mordida e a fala. Mas, de nada adianta todo um aparato tecnológico
se nós não tivermos a consciência de que o cuidado com os dentes deve ser
diário. Nos dias de hoje ainda há pessoas que não têm o costume de escovar os
dentes, de usar fio dental, de procurar um dentista a cada semestre. Costumamos
reclamar do valor gasto no dentista, mas não nos importamos em trocar de carro
todo ano, por exemplo. Dentes não são unhas encravadas, que cortamos quando nos
incomodam. Dentes são valores: mostram quem somos, como nos amamos, como nos
cuidamos.
Eu tbm prezo muito meus dentes, e só de pensar em perdê-los quase morro. Ah Carla VC tem.um.sorriso.muito.bonito
ResponderExcluirobrigada, josiane. você é muito gentil. beijo grande.
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