domingo, 15 de março de 2015

Quando um príncipe escapa de nossas mãos!


Eu tinha acabado de me mudar para aquele bairro quando um rapaz me chamou a atenção, à caminho da padaria. Eu estava à pé enquanto ele perambulava com o carro novo que deveria ter acabado de ganhar. Ao cruzar comigo, ele buzinava, acelerava e eu sorria, respondendo aos seus galanteios. Depois daquela paquera, todos os dias, no mesmo horário, eu ia comprar pão. Algumas vezes, ele mexia comigo do seu quarto, numa casa de dois andares, e eu dava um adeusinho ou um largo sorriso, mostrando que, apesar da timidez, eu estava quase me apaixonando. Porém, um dia, eu estava preocupada, distraída, e não o vi me chamar. De cabeça baixa, segui o meu caminho e só depois percebi o que fiz. Desde então, aquele príncipe nunca mais apareceu e me senti culpada. Com aquela atitude, joguei fora os meus planos de namorar aquele rapaz. Se sentindo rejeitado, ele não apareceu mais.
Mas, uma mulher não pode viver apenas de sonhos, e fui viver. Conheci outros rapazes, namorei bastante e custei a me casar. Não que aquele moço fosse tudo o que sonhei, mas é que as paixões devem ser vividas para serem totalmente liberadas do nosso cérebro, pois do contrário, parece que algo não ficou bem resolvido. Mas, se eu tenho um lado muito romântico, o outro é muito racional, e eu não podia me alimentar de ilusões. Continuei indo à padaria, sem olhar para a casa daquele rapaz. Logicamente que o caminho ficou mais chato, sem graça, e o morro, mais difícil de subir.
Os anos se passaram, me mudei do bairro, voltei oito anos depois, mais especificamente para a rua daquele rapaz, e ainda assim nunca mais o vi. Até que há dois anos, já casada, meu marido parou o carro para que um motorista fizesse manobra para entrar na garagem. Do banco de trás com o meu filho no colo, fiquei observando. Era aquele rapaz, que agradeceu a gentileza, buzinou e entrou em casa. O carro dele também era da mesma marca, porém, mais moderno. Estava com a mulher e três filhas. Mais gordo, deveria estar uns 30 quilos a mais, o que desenformava o rosto lindo que conheci. Ele não me viu e não comentei nada com o meu marido. Apenas fui relembrando os dias em que eu paquerava aquele moço. Não sei sequer o seu nome, o som da sua voz, nem o sabor do seu beijo. Sei apenas que ele fez parte da minha vida. Eu gostaria de saber o que fui para ele. E pedir perdão. Eu não quis magoá-lo. Estava apenas distraída!
Pela semelhança com os príncipes encantados, eu imaginava que aquele rapaz fora colocado na minha vida, não por acaso, mas por obra divina. Eu passava as noites pensando nele, e torcia para as tardes chegarem logo para que eu pudesse comprar pão e vê-lo na janela. E ele correspondia. Era para dar certo mas não deu. Como tudo na vida, os planos nem sempre são concretizados. Além do mais, os príncipes dos contos de fadas esperam pela princesa que almejam. E aquele rapaz desistiu muito facilmente de mim. Talvez eu tenha pensado nisso na época. E não há arrependimento ou saudosismo, apenas observações: do que fiz, do que não fiz e de como poderia ter sido se eu tivesse namorado aquele moço. Só isso!

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