sábado, 28 de março de 2015

Bem-vinda ao nosso mundo, querida!!

Houve um tempo em que eu quis ficar sozinha e curtir a vida de solteira, depois de terminar um longo relacionamento. Porém, os amigos não deixam, ficam incomodados de verem alguém sem amor. E não demorou muito para me arranjarem pretendentes. Além da boa vontade em me fazerem feliz, eu achava engraçado os homens que me apresentavam. Parece que não havia critérios, o que interessava era apenas serem do sexo masculino. Mas, até nisso erraram. Num clube, em pleno domingo, arrumaram uma estratégia para me apresentar um rapaz. Não era bonito, mas diziam que era rico (como se isso significasse a felicidade), filho único, segundo meus amigos, ideal para uma mulher como eu (O que será que quiseram dizer com isso?). Ele estava sentado no chão, e assim permaneceu, alegando pernas cansadas, alisando os membros inferiores de cima a baixo. De biquíni insistimos para que nos acompanhasse e ele se negou. Irritada,  reclamei: "Dá prá me apresentar um homem da próxima vez?? Esse aí tá mais moça do que eu!!!
Valeu a intenção. Na semana seguinte, baixei de novo naquele clube com nova promessa de um encontro inesquecível... não acreditei no que vi! À minha frente, sentado com os amigos, aquele homem era velho demais prá mim, e tinha um cheiro de camelo molhado, apesar de bem vestido. Muito inteligente e educado, passamos a tarde conversando e nos divertindo, até que ele se ofereceu para me levar prá casa. Tive uma ânsia que há muito tempo não sentia e tentei recusar a carona, sob protesto de todos. Tentando não ser indelicada, aceitei o convite e tive que fugir dos galanteios daquele homem que em nada me agradara. A partir daquele dia, meus amigos ficaram proibidos de me apresentar quem quer que fosse. Mas, amigo que é amigo é insistente e tentaram mais uma vez. Um homem interessante (não lindo), de olhos muito azuis era o alvo. Cheguei a sonhar com um possível relacionamento entre nós dois, até desconfiar daquele cara com tantas amizades femininas, preocupado em manter o corpo, jogando tênis. Aqueles músculos sarados enlouqueciam, mas a experiência serve para alguma coisa e percebi no mesmo dia que se tratava de um garoto de programa. Era mais um "príncipe" descartado da minha vida.
Gosto de homem cheiroso, bonito, inteligente, interessante, bem cuidado, trabalhador. Riqueza nunca foi o meu alvo porque sou independente e não troco dinheiro por carinho. Inteirados destas exigências, os amigos planejaram outro golpe, desta vez, quase certeiro. Num barzinho, marcaram um encontro entre mim e um rapaz, que tinha voz de Pato Donald e o apelido de um legume. Tudo bem - pensei - nada é perfeito mesmo! Num carrão, usando roupa bonita e um perfume marcante, ele chegou sério, mas gentil, me cumprimentou e passamos a noite toda conversando. Enquanto ele falava, eu ia imaginando aquele cara me dando um beijo e... desisti quando ele começou a palitar os dentes (daquele jeito, escondendo com as mãos, como se ninguém percebesse!! Urgh!!). Fiquei enojada e me desinteressei na hora.
Quando uma mulher marca de sair com um homem, ela planeja todos os detalhes, confere cada cantinho do corpo para se certificar de que tudo está em perfeita ordem, e que se por acaso, tiver que usá-lo, não fará feio. Mas, alguns homens, ao contrário, parecem não se importar com a aparência nem mesmo no primeiro encontro. Ao invés de fingirem que não são o que são, eles fazem questão de se mostrarem por inteiro, logo na estreia. E isso assusta, porque fantasia passa longe da verdade e queremos imaginar um homem que não exista, mesmo tendo consciência de que isso nunca acontecerá. Certa vez saí com um vizinho bonito para um restaurante e me decepcionei. Além de ser monossilábico (e eu, falastrona), percebi que não tinha bons modos. Ao pegar um objeto que caiu no chão, dei de cara com os pés descalços do bonitão. Ele passava um em cima do outro e não gostei daquela cena no restaurante. Depois disso, perdi a graça e fui embora sem emoção. Sou assim: perco o entusiasmo a toa. Minha mãe diz que a puxei, pois ela já terminou um namoro quando viu o primeiro namorado com a camisa rasgada embaixo do braço. Eu fiz o mesmo, ao ver o meu amado com a meia furada (imagine se fosse a cueca, então)!!
Depois de tanto procurar um substituto para meu ex-namorado, com quem fiquei uma década, desisti. Acreditei que não teria mais tempo de ser mãe e de me casar na igreja, sonho de adolescente. Eu já não era nenhuma menina e percebi que havia perdido tempo demais, acreditando que a natureza é a responsável pelo nosso futuro. Desanimada, fiquei com preguiça de sair para tentar encontrar um grande amor. Mesmo assim, conheci um moço, advogado, no casamento de um primo, que no dia seguinte foi à minha casa. Ao chegar, ele pediu leite quente com açúcar, viu meus retratos e me comparava com cada foto, me deixando envergonhada. Num determinado momento ele deu a volta pelo sofá, conversando seriíssimo, enquanto eu estava sentada em outra poltrona, observando aquela cena ridícula. Antes, porém, queria que eu o encontrasse num shopping distante para irmos ao cinema. Seria nosso primeiro encontro e como eu iria, de ônibus, toda produzida? Depois disso, o dispensei educadamente, para nunca mais saber sobre o seu paradeiro.
Mas, o destino é mesmo surpreendente, e quando eu já havia me acostumado com a solteirice, conheci meu marido, através de colegas da faculdade da minha irmã. Eu não queria ir àquele passeio, mas acabei cedendo. Ao ser apresentada àquele rapaz, alto, moreno, esbelto, de olhos esverdeados, não me interessei! Não dei a ele o número do meu telefone, não me comprometi a ligar e só lhe dei uma chance depois de quatro meses, por insistência dele. Nosso primeiro encontro foi durante o dia, num domingo de sol e eu nem me lembrava de seu rosto, quando ele foi me buscar em casa. Num barzinho, nos beijamos e saímos de lá certos de que nascemos um para o outro. Dois anos depois estávamos casados e lá se vão nove anos. Depois de muita convivência, estamos nos separando, por determinação minha. O romance já não é o mesmo, a rotina tomou conta dos meus dias e para viver, tenho que ser feliz. E eu não estou! Conversando com uma amiga sobre a minha separação, e sobre a dificuldade de se encontrar um cara legal para namorar, da ansiedade pela espera de uma ligação do pretendente, ela simplesmente me respondeu: "Bem vinda de volta ao mundo, querida!"

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