quarta-feira, 25 de junho de 2014

Uma blusa não pede desculpas!

Há alguns anos, trabalhando como redatora numa rádio, fui surpreendida pelo meu ex-patrão, com uma camisa feminina, no dia do meu aniversário. Estilo caubói, bege, manga comprida, era uma peça cara, vendida na loja que pertencia ao prédio. Recebi o presente de bom grado, usei no dia seguinte, mas doei-o à igreja do meu bairro, na mesma semana. Foi um alívio não ter que ver no meu guarda-roupa, aquela camisa que representava uma humilhação. Não pelo presente em si, mas pela grossura daquele homem. Ao ser abraçada, ele me questionou a roupa simples que eu usava: calça vermelha, tênis e camiseta branca, a meu ver, perfeita para quem ficava trancafiada o dia todo em uma minúscula sala. Para meu ex-patrão, eu deveria usar salto alto e blusa de grife. Mas, aquele estilo não era o meu, e reforcei isso a ele, que sem-graça, se desculpou, desceu as escadas e subiu novamente com um embrulho. Era a camisa, que passou a significar, para mim um mísero pano-de-chão.
Se um homem não sabe tratar uma mulher, melhor não arriscar. Jamais diga a ela que está mal vestida ou feia, mesmo que ela esteja. A vaidade feminina é uma alavanca que impulsiona, mas qualquer deslize desencadeia uma tempestade de tristeza, difícil de passar. Então, para levantar o astral novamente, só com elogios. E, convenhamos, não é tão difícil assim. Dizer à uma mulher que ela está linda, perfumada, ou que tem um sorriso lindo, desmancha qualquer rabugice. Mas, alguns homens não conhecem esta delicadeza, acreditam que nós gostamos de palavras duras, de semblante fechado e cara de mal. Isso só funciona nos filmes de faroeste. No dia-a-dia, adoramos um carinho. Pode ser em forma de contato físico, como um abraço, ou através de palavras suaves, e até mesmo em forma de presentes ou flores. Como se vê, não somos difíceis de agradar.
Quando conheci meu marido, há dez anos, o que mais me chamou a atenção nele foi a gentileza, a educação extrema. E ele me conquistou de vez, quando me presenteou com um porta-sabonete vermelho, de crochê, simplório. Ele disse que aquele mimo era para a futura mamãe de seu filho. Me derreti, pois nas entrelinhas, mostrou o seu compromisso comigo e a seriedade com que me enxergava. Hoje, raramente Humberto me presenteia, mas em compensação, sempre se lembra de mim em todos os lugares em que vai. Se fico enciumada pelas viagens que faz, ele me lembra que é um homem que se dá ao respeito e não um moleque. É isso o que gosto de ouvir: a minha importância na vida de quem amo. Por outro lado, há mulheres que não se importam com as grossuras masculinas. Quando minha prima começou a namorar um rapaz rico e bonitão, nós, suas amigas, a alertamos da grosseria, mas ela insistiu e eles se casaram, após seis anos de namoro. O casamento não durou seis meses. Segundo ela, as brigas eram constantes, com direito a escândalos compartilhados pela vizinhança.
Tolerar grossura, seja de quem for, é se desrespeitar, é não ter brio. Não sou uma pessoa fácil, sou sistemática, e falo o que penso. Ás vezes me pego dando gafes pelas palavras mal colocadas, mas tenho a fineza de me desculpar ou admitir meu erro. Agora estou numa segunda fase, a de evitar falar demais, para não sofrer depois. E está sendo uma fase muito boa, de maturidade, e descubro cada vez mais que o silêncio é o senhor da sabedoria. Estou aprendendo a economizar nas palavras, nos julgamentos, e emitir opiniões só quando consultada. E os resultados estão sendo satisfatórios. Afinal, franqueza não é sinônimo de verdade. Como no caso da camisa citado anteriormente. A problema não foi o presente, mas o discurso ridículo que veio com ele. Só mesmo um grosso para gastar o tempo machucando almas. Só tenho um sentimento por aquele homem: dó. Muita dó!!!
 

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