domingo, 26 de maio de 2013

Juventude, liberdade e feminismo!

Uma das vantagens da fase adulta, é pensar muito antes de se tomar uma decisão. Na juventude, as preocupações com as consequências dos próprios atos não é levada em consideração quando o objetivo principal é se divertir. E, todo adolescente precisa passar por essa fase, daí a necessidade dos limites impostos pelos pais. Na minha família, quem mandava era a minha mãe, e ela nos deixava ir a festas e vaigens por confiar em nós. Numa destas permissões, eu e amigos fomos parar numa cachoeira perto de Divinópolis, durante o Carnaval. Foram quatro dias de acampamento com chuva à noite e sol durante o dia e para matar a fome, comíamos biscoitos industrializados e refrigerantes. Fomos num Fusca apertado, entre os alimentos, cobertas e as colchonetes finas, que pouco serviram para esquentar as noites geladas. Quando chegamos, não conseguimos montar a barraca e ficamos ali mesmo, deitados e abraçados, embaixo de uma chuva gelada que caía sem parar. A água não impediu as mordidas de formigas e borrachudos e a coceira pelo corpo foi inevitável.
Eu, minha irmã Soraia, e os amigos Paulinho e Antônio ríamos muito, saíamos pela estrada sem compromisso e isso dava a sensação de uma liberdade sem fim. Mas, confesso, ao passarmos pela casa da minha avó para uma visita, me deu vontade de ficar ali, naquele local quentinho com comida no fogão à lenha, e camas convidativas.  No último dia de acampamento conhecemos uma turma de homens que faziam um churrasco, que nos convidou para participarmos do banquete. Aceitamos o convite e seguimos com eles para Divinópolis, quando perdemos a chave do carro. Na casa de um deles, entramos, tomamos banho e jantamos, sob os protestos da esposa de um deles, que reclamava sobre as saídas do marido, enquanto ela ficava em casa com os dois filhos.
Aos 15 anos de idade, o sermão daquela mulher me chamou a atenção. Com o dobro da minha idade, talvez ela sentisse a falta de liberdade que viu em mim e na minha irmã. Éramos de gerações diferentes e aquela liberdade, de sair pela estrada, sem rumo era de causar inveja naquela mulher. Eu não entendia nada de feminismo, mas me senti culpada por levar uma vida que ela desejava. E me senti profundamente irritada com a atitude do marido dela, de deixá-la em casa, enquanto ele se divertia com uma turma de marmanjos. E tudo o que ela queria era um pouco de alegria em seus dias, tão cheios de tarefas corriqueiras, domésticas. Pra desabafar, ela nos atacou e pediu desculpas depois, quando entendeu que nada tínhamos a ver com sua história, e por entender que éramos moças de família.
De volta para casa prometi a mim mesma que eu não faria outra viagem tão louca, mas não cumpri a promessa e por várias vezes me meti em aventuras novamente. Hoje saio pouco de casa, não vou a festas e detesto viagens. Gosto da minha rotina, mas faço o possível para não me tornar uma vítima do machismo. Vou aonde quero e não aceito imposições masculinas sobre o meu jeito de vestir e de me comportar. Não me mudo para agradar a ninguém, a não ser a mim mesma. Claro que os tempos são outros, mas nunca me esqueci do discurso amargo daquela mulher. Eu não entendia porque ela não contrariava o marido, porque aceitava as proibições dele, porque ela não trabalhava e ganhava sua liberdade, sua "alforria".  A viagem daqueles dias pode ter sido difícil, mas os ensinamentos foram muitos, inesquecíveis.

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